Uma série de ações voltadas à prevenção contra o uso de drogas e ao tratamento de dependentes químicos em situação de vulnerabilidade foi anunciada pela Prefeitura de Curitiba na manhã desta sexta-feira (30). Além da ampliação do atendimento já oferecido a usuários de álcool e outras drogas que vivem nas ruas,  o conjunto de medidas inclui ampliação do acesso a tratamentos, abordagem de jovens que fazem uso de drogas em locais públicos, oportunidades de reinserção social, monitoramento de áreas públicas com câmeras e oficinas profissionalizantes como forma de prevenção.

 

A iniciativa parte de uma política transversal, envolvendo diversas secretarias. As medidas serão financiadas predominantemente por convênios com o Ministério da Justiça, que somam cerca de R$ 3 milhões.

 

Intervidas

 

A expansão do projeto Intervidas ocorrerá a partir da próxima segunda-feira (3). Com horário estendido, o ônibus do programa estará presente em diferentes locais em cinco noites da semana. Hoje, funciona em duas noites: Praça Rui Barbosa nas terças-feiras e Praça Osório nas quintas-feiras. Além desses locais, a nova rota terá a Praça Ouvidor Pardinho nas segundas-feiras, Praça Santos Andrade nas quartas-feiras e Largo da Ordem nas sextas-feiras.

 

O projeto visa o atendimento de usuários de drogas e álcool em locais públicos. Durante cinco horas, das 18 às 23 horas, uma equipe multidisciplinar trabalha com usuários de álcool e outras drogas em situação de rua que costumam frequentar as praças e são convidados para participar de atividades que envolvem música, esporte, leitura e artes circenses, objetivando a ressocialização, a reinserção e o vínculo.

 

Ao criar vínculo com essas pessoas, os profissionais da saúde passam a orientá-las sobre redução de danos e sensibilizá-las para que sejam encaminhados a outros equipamentos da prefeitura, como abrigos, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), reforçando um trabalho intersetorial entre várias secretarias. Com a expansão, a expectativa é de, em um ano, executar 7,6 mil atendimentos individuais, 11 mil atendimentos em grupo e 800 encaminhamentos.

 

Conexão Jovem

 

Em outra frente, o projeto Conexão Jovem buscará impactar a vida de jovens que não se encontram em situação de rua, mas fazem uso de drogas em locais públicos próximos a instituições de ensino ou estão em situação de risco para tal. O consumo de drogas lícitas e ilícitas cria uma situação de vulnerabilidade social. Para evitar que essas pessoas quebrem seus vínculos familiares, escolares e de trabalho, equipes compostas por profissionais de saúde mental intervirão diretamente com elas, explica o diretor do Departamento de Políticas sobre Drogas da Secretaria Municipal da Saúde, Marcelo Kimati. A ação está prevista para começar na primeira quinzena de novembro e ocorrerá durante o dia.

 

Morada Intervidas

 

Na segunda quinzena de outubro, começa a funcionar a Morada Intervidas, uma casa de acolhimento para dependentes químicos em tratamento no SUS Curitiba. O projeto tem o objetivo de abrigar e contribuir com a recuperação e com a reinserção social de pessoas que tiveram seus vínculos destruídos por causa das drogas. A participação em cursos profissionalizantes ofertados pela Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego criará oportunidades para que esses indivíduos estejam aptos para voltar ao mercado de trabalho.

 

Não se trata de um espaço para o consumo de drogas. A casa de acolhimento será monitorada e hospedará pessoas com projeto terapêutico em andamento. São usuários acolhidos, já acompanhados nos CAPS, que passarão por avaliação semanal e serão preparados para a reinserção através do trabalho, sintetiza o secretário municipal da Saúde, César Monte Serrat Titton. O local terá 100 leitos, horários de entrada e saída definidos e regras a serem seguidas pelos hóspedes, que estarão sujeitos a vistorias e sanções. Os hóspedes deverão permanecer na morada por cerca de quatro meses.

 

Cuidar das pessoas pode parecer simples, mas a estrutura para isso torna-se cada vez mais complexa para atender as necessidades de cada pessoa, com a ampliação das portas de acesso aos diferentes serviços municipais, afirma Titton.

 

Viva Jovem

 

Na linha da prevenção, para que jovens estejam conscientes e evitem o contato com as drogas, os Portais do Futuro e CAPS ofertarão, ao longo de um ano, 2,5 mil vagas em 77 oficinas profissionalizantes relacionadas à cultura jovem, como hip-hop, grafite, DJ e fotografia. Os primeiros cursos tiveram início na última quinta-feira (29) nos portais Cajuru e Tatuquara. O público-alvo das capacitações são pessoas com 15 anos ou mais. Dessa forma, reforçamos os Portais do Futuro como dispositivos de prevenção ao uso de drogas e de empoderamento e protagonismo juvenil, diz Kimati.

 

Monitoramento

 

A última medida anunciada é a implantação, até meados de outubro, de um módulo de monitoramento por câmeras em áreas públicas com alta prevalência de uso de drogas. O veículo captará imagens de câmeras instaladas em diferentes pontos da cidade e as informações coletadas ajudarão a direcionar as equipes multiprofissionais para locais de abordagem e também servirão para acompanhar o impacto das ações desenvolvidas pelo Município.

 

Além disso, o equipamento ajudará na atuação da Guarda Municipal e dados poderão ser repassados pela Secretaria Municipal de Defesa Social para as polícias Civil e Militar para que as autoridades de segurança pública também possam tomar medidas cabíveis.

 

Opiniões

A apresentação do conjunto de ações ocorreu no Salão Nobre da Prefeitura e contou com a presença de autoridades, especialistas e representantes da sociedade. Entre os presentes estava o coordenador nacional do Movimento de Pessoas em Situação de Rua e conselheiro nacional de Direitos Humanos, Leonildo José Monteiro. Ele destacou a importância de uma política intersetorial que garanta o essencial para quem vive nas ruas: saúde, trabalho e moradia. O trabalho desenvolvido em Curitiba é referência para o país e garante dignidade e justiça a quem está nas ruas. É uma luz para que essa população possa voltar a ter uma vida com dignidade, diz.

 

O trabalho desenvolvido por Curitiba também foi elogiado por representantes de entidades nacionais e internacionais. O analista de programas dos temas de saúde do Escritório das Nações Unidas dobre Drogas e Crimes no Brasil, Francisco Cordeiro, destacou que os relatos de pessoas já beneficiadas por programas curitibanos, como o Guarda Pertences e o Intervidas, são um reconhecimento de ações que garantem dignidade e respeitam os direitos desses cidadãos. A experiência de Curitiba é inovadora e reconhece a singularidade de cada pessoa. Conhecer o Intervidas me encantou por ver que essas pessoas têm a possibilidade de serem acolhidos sem nenhum receio, sem nenhuma barreira, afirma.

A psicóloga Tânia Maris Grigollo, representante da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e da Fundação Oswaldo Cruz, também ressaltou a experiência curitibana. Curitiba avançou muito em pouco tempo rumo ao respeito às pessoas com muita criatividade e inovação. São projetos sustentáveis e com resultados evidentes, que estão sendo observados por outras cidades no país e no exterior, destaca.