O forte movimento migratório existente no mundo hoje, provocado por várias causas como guerras, pobreza, catástrofes naturais, perseguições políticas ou étnicas, tem afetado escolas em vários países, em diversas áreas do saber, e com mais intensidade no ensino de idiomas.

A perspectiva de um futuro cada vez mais interligado tem como desafio a multiplicidade de línguas existentes, por volta de seis mil no mundo, que manifestam a heterogeneidade cultural de nosso planeta, mas também dificultam negócios, empreendimentos e contatos, num momento em se acelera a movimentação populacional, principalmente de, e para, grandes centros urbanos.

Este fenômeno faz crescer a importância de algumas poucas línguas efetivamente utilizadas internacionalmente, já que estas facilitam a mobilidade e a integração comunitária, reforçando a necessidade de que a aquisição de língua estrangeira seja feita o mais cedo possível, preferencialmente junto à aprendizagem da língua materna. Difícil no Brasil, mas já realizado em muitas regiões do globo terrestre, pois a diversidade linguística constitui enriquecimento cultural, acesso a boas literaturas, ao estado da arte tecnológico e principalmente maior compreensão do outro, melhorando os relacionamentos pessoais.

As pressões migratórias, em função das disparidades econômicas, acentuam problemas sociais que em parte podem ser minimizados se o idioma não constituir outro fator desagregador, ou seja, se a comunicação puder ser efetivada com certo sucesso, permitindo compartilhar atitudes e comportamentos que não agridam nenhuma das culturas envolvidas. O crescimento demográfico, a marginalização dos espaços rurais, os acirramentos de conflitos em muitos países, terremotos ou inundações que tornam certas regiões impraticáveis à vida humana, irão infelizmente intensificar a movimentação de refugiados em busca de asilo.

Este é um processo social complexo tanto nos países de origem quanto naqueles que acolhem, mostrando a face da interdependência educacional que necessita atenção política e financeira para aumentar a qualidade do processo ensino-aprendizagem de outras línguas. Migrações, ao longo da história humana, sempre constituíram também fator de segurança econômica e social, por permitirem que mão-de-obra se deslocasse para onde faria mais falta, fosse ela altamente especializada ou não.

Estima-se que no mundo hoje cerca de 130 milhões de pessoas vivam fora de seus países de origem, mas este número tende a crescer pelo explosivo aumento no número de refugiados; e este crescimento traz o agravante, em relação a outras ondas migratórias, de seu contexto de tensões extremas em vários países, aumento do desemprego e principalmente do acirramento da xenofobia, da violência contra mulheres, idosos e crianças.

Pesquisas apontam, no entanto, dada a má qualidade do ensino de língua estrangeira nas escolas públicas brasileiras, salvo as honrosas exceções de praxe, um descrédito total dos pais – que se preparam sempre para pagar um curso livre à parte para seus filhos -, o que é um absurdo, já que é com os impostos de todos que as instituições escolares públicas são mantidas. Os motivos elencados para esta falha: falta de laboratórios, de biblioteca com bom acervo, inadequada formação dos professores, alunos desmotivados, número elevado de estudantes em cada sala, parecem retirar da escola a responsabilidade a formação de um cidadão apto a viver nas complexas sociedades contemporâneas.

Assim, falta a nossos alunos aquilo que o sociólogo, filósofo e educador francês Pierre Bourdieu denominava capital cultural, característica do pleno letramento, indispensável na formação de um ser humano instruído e apto à convivência pacífica e produtiva.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.