A foto do comentarista Mauro Cezar Pereira, da ESPN, vestido com a camisa do Flamengo assistindo ao jogo das arquibancadas trouxe de volta à tona uma velha e cansada discussão. Jornalista esportivo deve ou não revelar o time para o qual torce? É muito fácil cair da tentação de tornar óbvia a resposta, mas certamente a análise não pode ser tão rasa como querem os torcedores.

Isso porque não é simples. Simples assim. A discussão está diretamente ligada ao impulso que os torcedores têm de julgar tudo e qualquer situação ou comentário a partir do que eles acham que é certo. E, via de regra, o que eles acham que é certo é o que eles acham que é certo. E ponto final. Não há diálogo, há apenas discurso. Na verdade nem discurso é. Fica mais para um apedrejamento moral.

Como jornalista esportivo já fui chamado de tudo. De Coxa, quando a matéria que escrevi ou irradiei incomodou um atleticano, de atleticano quando minhas palavras irritaram os coxas e de torcedor melancia (verde e branco por fora, vermelho e preto por dentro) quando falava qualquer coisa do Paraná – bem ou mal.

Ao invés de me irritar, isso me deixava muito satisfeito, afinal era a certeza de que meu trabalho estava bem feito.
A função do jornalista não é proteger A ou falar mal de B simplesmente porque prefere assim ou agrada aos seus. Temos a difícil missão de reportar fatos, presume-se que bem apurados e que apresentem ao leitor a chance dele próprio formar sua opinião. Por vezes derrapamos, mas é exceção (ou deveria ser), não regra.

Eu também tenho um time, mas me enquadro numa categoria bem atípica de torcedor. Eu gosto de futebol. Acho a mais linda das religiões e aquela que mais cativa seus fiéis. Capaz de fazer rir, chorar e perder-se a razão, fato comum nas discussões e boteco e no anonimato – ou não – dos bate-bocas das redes sociais.

Lembram daquela história de que um homem troca de carro, mulher, mas não troca de time? Eu quebrei essa regra. Sou um vira-casacas convicto. Tenho a capacidade de assistir a um jogo do Atlético, Coritiba e Paraná com o mesmo prazer, ficando feliz com as vitórias e incomodado com fracassos e derrotas.

Na minha tenra infância torci para o Pinheiros, tanto por frequentar o clube com a família, como pela simpatia pelo time, cores e símbolos. Tive meus bons anos de atleticano com meu pai e meu irmão assistindo e curtindo jogos no Pinheirão e na velha Baixada. Como adolescente olha negra, frustrei meu pai e irmão e frequentei o Alto da Glória um bom tempo.

Hoje digo com tranquilidade que estou, repito, ESTOU paranista, resgatando minhas raízes pinheirenses. Sei das dificuldades e angústias dessa gente. Solidarizo-me com torcedores e funcionários e gostaria de ajudar a limpar para sempre o clube de aproveitadores.

Sei que para muitos é difícil entender e até respeitar o que acabei de escrever, mas disse tudo isso de coração, sem medo de ser rotulado ou taxado do que quer que seja – a não ser de vira-casacas. Sou mesmo, paciência.

Não se revela time em Curitiba por dois motivos: porque é irrelevante se o profissional for bom e porque a maioria dos torcedores não tem a capacidade de discernir um bom trabalho jornalístico de uma suposta perseguição velada ao seu time do coração. É assim por aí, e muito pior por aqui. Curitiba, bairrista e autofagista, não sabe lidar com essa franqueza. Infelizmente. É assim e sempre será.

Ou não.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.