NATÁLIA CANCIAN BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Representantes do Ministério da Saúde, de entidades médicas, enfermeiros e outros profissionais de saúde firmaram um acordo nesta quinta-feira (20) para tentar frear o avanço da sífilis em gestantes e bebês no país. A medida, assinada por 19 associações e conselhos de saúde, visa adotar ações para ampliar o diagnóstico da infecção e a oferta de tratamento. A ideia é estimular o início do pré-natal ainda no primeiro trimestre da gravidez e ofertar maior número de testes rápidos para diagnóstico -estão previstos ao menos 8 milhões de testes. Em 2015, foram adquiridos 6,1 milhões. Também serão implementados comitês de investigação sobre a transmissão vertical de sífilis e divulgadas novas orientações aos profissionais para ampliar o monitoramento. As ações ocorrem em meio a críticas sobre a demora em adotar medidas mais contundentes contra a sífilis, doença que, longe dos holofotes, tem avançado com força no país nos últimos anos. Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de casos notificados de sífilis em gestantes cresceu 20,7% entre 2014 e 2015, chegando a 33.365 casos no último ano. Já os casos de sífilis congênita -quando a infecção é transmitida da mãe para o bebê-, chegaram a 19.228 em 2015, um aumento de 19% no último ano. Isso indica uma taxa de incidência de 6,5 casos a cada mil nascidos vivos. Para comparação, em 2008, eram 5.728 casos de sífilis em bebês e 7.920 em gestantes, crescimento de 236% e 321% em oito anos, respectivamente. A situação se agrava diante do risco de complicações da doença. “São bebês que podem nascer com malformações e ter lesões de pele”, diz Adele Benzaken, diretora do departamento de DST/Aids do ministério. “Estamos tratando como uma epidemia”, afirma o ministro da Saúde, Ricardo Barros. AUMENTO Alguns fatores explicam o aumento. Entre eles, segundo especialistas, estão a redução no uso de preservativo -o contágio ocorre por meio de relação sexual desprotegida- e o atraso para o início do pré-natal. Já o governo cita a ampliação do diagnóstico e a melhoria na vigilância, o que permitiu que mais casos fossem identificados. Essa identificação, no entanto, não foi acompanhada de maior acesso ao tratamento, outro fator que pode explicar a explosão no número de casos, de acordo com especialistas. O Ministério da Saúde admite o problema. Se administrada a tempo, a penicilina benzatina é capaz de impedir a transmissão da infecção da gestante para o bebê. O país, no entanto, conviveu com falta do medicamento desde 2014 até meados deste ano. O governo diz que a situação, causada pela falta de matéria-prima necessária para a produção do medicamento no exterior, ocorreu também em outros países e foi regularizada por meio de compras emergenciais. Agora, a pasta afirma estudar incentivos à produção nacional para evitar novo desabastecimento. Ainda que a oferta do tratamento seja regularizada, falta organização dos serviços de saúde, afirma Mauro Leal Passos, professor de DST da Universidade Federal Fluminense. “O grave problema é que as ações não acontecem ao mesmo tempo. Precisamos ter pré-natal, diagnóstico, tratamento e acompanhamento em tempo oportuno”, diz ele, que lembra que o parceiro também precisa ser tratado para evitar uma reinfecção. Para Passos, as medidas anunciadas nesta quinta por meio do acordo entre as entidades podem ajudar a reduzir os casos. Mas é preciso que todos se envolvam nas ações. “Pela primeira vez vejo uma ação articulada com enfermagem, sociedade e médicos. Se aplicar [o medicamento] a tempo, a gestante chega na maternidade tratada”.