FILIPE OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A digitalização da economia cria a possibilidade do desenvolvimento de novas moedas, desvinculadas de autoridades que regulem seu funcionamento.
Em sentido mais amplo, essas novas formas de dinheiro vão desde a criptomoeda mais conhecida, o bitcoin, passando por moedas sociais -usadas em grupos ou territórios menores, em geral com pouco acesso ao sistema bancário- até as intangíveis (reputação e fidelidade), valiosas no contexto de redes sociais.
As possibilidades e desafios criados nesse contexto foram o tema principal do seminário “A Reinvenção do Dinheiro e a Emergência das Moedas Criativas”, realizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP e pelo Instituto de Estudos Avançados da universidade nesta quinta-feira (20).
Participaram do evento pesquisadores de áreas como economia, comunicação, geografia e engenharia, além de representantes do poder público.
Gilson Schwartz, professor da USP responsável pela organização do seminário, diz que o contexto de crises financeiras e de moedas mundo afora, incluindo as de países com juros negativos, cria a necessidade da reflexão.
“O dinheiro está em uma crise global e em um momento de reinvenção, em que se busca formas de ele ser criativo, não destrutivo. Para isso, é necessário entender como ele surge e quem pode emiti-lo.”
REGULAÇÃO
Helio Nogueira da Cruz, professor da FEA (Faculdade de Economia e Administração da USP), apontou o papel dos governos como responsáveis por regular e garantir a aceitação de suas moedas em seus territórios.
Segundo Nogueira, novas empresas do setor financeiro, especialmente as que atuam com moedas digitais, vêm desafiando essa premissa. Porém, em sua opinião, uma regulamentação para garantir a segurança de um sistema financeiro em que essas moedas estão presentes é inevitável.
“O arranjo institucional atual não é adequado para essas moedas, assim como não é para o Uber e o Airbnb. E, no caso delas, isso é ainda mais importante, pois elas contestam todo o sistema financeiro.”
Marusa Vasconcelos Freire, procuradora do Banco Central, afirmou que a disseminação de novas tecnologias financeiras é inevitável e pode proporcionar ganhos para a sociedade, de um lado, e riscos, de outro.
Segundo ela, o Banco Central vem permitindo a liberdade de iniciativa de tecnologias financeiras (desde que não lesem a outros) até que atinjam um patamar importante que exijam a sua regulação.
Luli Radfahrer, professor da ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP), apontou para o fato de que coisas que não enxergávamos como dinheiro no passado, como reputação e fidelidade, são a fonte de receita para empresas bilionárias.
“O Google e o Facebook não produzem nada além da atenção dos usuários e das métricas sobre navegação que antes não existiam.”