MARCELO QUAZ SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em Pinheiros, os estragos da chuva e a falta de energia também causaram prejuízos a comerciantes. Revoltadas, as proprietárias de duas lojas de ferragens, na rua Paes Leme, que foram completamente destruídas por um incêndio nesta quinta, estimam que, juntas, perderam R$ 1,6 milhão só em mercadorias. As comerciantes aguardam o resultado

da perícia. Segundo elas, o fogo começou depois de um curto circuito na fiação de um poste em frente aos estabelecimentos. “Os bombeiros demoraram mais de uma hora pra chegar. Se fossem 15 minutos talvez salvaríamos algo. E a Eletropaulo até agora [16h30] não apareceu”, afirma Olga Passiano, 58. “Estou aqui há 20 anos. Era o meu ganha pão. Quem vai pagar minhas contas?”, perguntava Dora Lemos, 50.

Outros comércios do mesmo quarteirão fecharam mais cedo ou trabalharam no improviso, realizando atendimentos com lanterna. Na lanchonete Maçã Verde, funcionando no escuro, o prejuízo chegou a R$ 30 mil. “Desde o incêndio de ontem, evacuaram meu salão. Pessoas saíram sem pagar a conta. Pinheiros está difícil. Não é a primeira vez. Falta energia até em dia de Sol, quando chove então. Só queria trabalhar. Quando liguei pra Eletropaulo, a previsão era voltar a luz às 10h. Até agora [17h], nada”, afirma o dono Viana Nascimento.

Todos os comerciantes ouvidos pela reportagem planejam acionar os responsáveis para tentar ressarcir os prejuízos. Na rua Cardeal Arcoverde, salões de beleza também não puderam funcionar normalmente por falta de energia. Quem se arriscou teve de lavar o cabelo com água fria, sem direito a secador no final. O que mais se via eram salões quase vazios, com manicures sentadas na porta de entrada, único lugar em que a luz natural possibilitava o atendimento. “Dispensei quase todos os funcionários. Agora, o problema é que os dias 20 e 21 normalmente são ótimos porque as pessoas receberam o salário e, então, vêm”, disse Aparecida Aboboreira, 51, proprietária do Sucessu’s Cabeleireiros.

No vizinho Galas, o dono Edson Cardoso, disse que a promessa era de a energia voltaria ao meio-dia. “Simplesmente, perdi 95% do meu movimento hoje. Pessoas desmarcaram, não entraram. Só deu pra fazer serviços menores, como corte masculino e sem máquina. Trabalhamos o dia pra pagar nosso café”, afirmou Cardoso. Por volta das 17h30, havia mais comércios fechados que abertos nestes pontos e também na rua Pedroso de Moraes. Muitos semáforos no bairro ainda não funcionavam. Nas ruas Pedroso de Moraes e dos Pinheiros, incluindo o cruzamento desta com a avenida Faria Lima, o problema gerou lentidão no trânsito. Agentes da CET organizavam o fluxo.

NO ESCURO

Mais de 24 horas após um forte temporal que deixou ao menos uma pessoa morta, São Paulo segue com ruas e casas sem luz. Há relatos de moradores sem energia em bairros das zonas norte e oeste. De acordo com o gerente de operações da Eletropaulo, Marcelo Puertas, a concessionária está trabalhando com capacidade máxima para restaurar o abastecimento. “Não se trata de um atendimento pontual, mas de uma reconstrução de rede. Estamos reinstalando postes, transformadores e condutores”, afirmou. A empresa não deu previsão para a volta à normalidade.