RUBENS VALENTE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em depoimento prestado à Polícia Federal nesta sexta-feira (21), o policial legislativo Geraldo César de Deus Oliveira, 29, um dos presos na Operação Métis, afirmou ter resistido às ordens de varredura contra grampos telefônicos ordenadas pelo seu superior na Polícia do Senado.
Oliveira, que foi solto nesta sexta por decisão da PF, disse que temia ser confundido com “um espião” e também ser acusado de estar “protegendo” parlamentares investigados pela Operação Lava Jato.
O policial afirmou que chegou a manter contato telefônico com a PGR (Procuradoria-Geral da República) para informar as varreduras.
Oliveira disse que, para esses serviços, o Senado adquiriu dois aparelhos modelo Oscor Green, “que servem para leitura de radiofrequência”, ou seja, detecção de eventual interceptação telefônica e ambiental, e dois aparelhos Talan, “que servem para medida de contrainteligência em linha de telefone fixo e fiação elétrica”.
Para aprender a manusear os aparelhos, ele e um colega, Antonio Tavares, viajaram aos Estados Unidos e também receberam aulas técnicas de servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Oliveira disse que o grupo da Polícia do Senado também realiza “uma espécie de ‘proteção especial'” ao presidente do Senado, “realizando varreduras onde quer que ele vá ter reuniões”.
A primeira varredura com esses aparelhos que despertou suas suspeitas, disse Oliveira, foi uma realizada na casa de Marcos Regada, segundo ele um genro do ex-senador Edison Lobão Filho. Seria uma casa “suntuosa”, onde havia até um helicóptero.
Oliveira disse que a princípio não sabia, mas depois descobriu que a varredura não “estava relacionada com o exercício do mandato de um senador”, mas sim com “a campanha política de Lobão Filho ao governo do Estado”. Afirmou também que só depois descobriu que o trabalho fora feito na casa do genro do ex-senador, e não na residência de um parlamentar.
Na viagem até São Luis (MA), Oliveira disse ter tido medo de que o equipamento fosse detectado pelo aparelho do raio-x do aeroporto, por exemplo, e os servidores “serem tidos como ‘espiões’ do Senado pela mídia”.
O grupo da Polícia do Senado atuou também nas varreduras em endereços ligados aos senadores Fernando Collor (PTC-AL) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) e na do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).
Nos dois primeiros casos, disse Oliveira, os trabalhos ocorreram justamente logo após duas fases desencadeadas pela PF e pela PGR (Procuradoria-Geral da República), com ordem do STF, em desdobramentos da Lava Jato.
Na residência de Collor, os policiais foram recebidos por um assessor, chamado Santana, que teria dito que o parlamentar “estava inseguro de retornar para casa pois seus ambientes tinham sido devassados pela PF”. “De fato causou estranheza e receio por parte do interrogado [Geraldo], porém acreditava até então que estava cumprindo uma ordem legal”, disse Oliveira à PF.
Sobre a varredura na casa de José Sarney, Oliveira afirmou que após receber a ordem decidiu “questioná-la”, mas o diretor da Polícia do Senado, Pedro Carvalho, respondeu que ele “deveria ir, simplesmente por ser uma ordem já que o pedido havia sido feito por um ex-presidente e que, acaso um dia isto fosse questionado, poderia ser dito que tal medida foi realizada como precursora para uma visita do presidente do Senado, o que legitimaria a ação da ‘contramedida’ [de segurança]”.
Gleisi também teria dito à Polícia do Senado que estava insegura e “só voltaria para casa após a realização da varredura eletrônica”.
Oliveira repetiu que também resistiu à essa segunda ordem, assim como seu chefe imediato, Everaldo Bosco, “que não estava seguro em realizar a varredura na casa da senadora, por ser em Curitiba e temer dar aparência de que a Polícia do Senado estaria protegendo parlamentar”.
“Na verdade, nesse momento, somadas todas as circunstâncias anteriores, desconfiava muito do real interesse nas ordens recebidas”, disse o policial legislativo. Oliveira afirmou também que tentou um contato com procuradores da República próximos do procurador-geral da República e que deixou “essa tentativa de contato no sistema SPOL/Bolo, um subsistema de registro de boletim de ocorrência” como ocorrência administrativa.
Oliveira disse que recebeu como resposta do procurador que a equipe do Senado “poderia ir, não vão achar nada”, em referência a grampos telefônicos.
Após prestar o depoimento à PF, Oliveira foi solto. Ele estava preso por prazo máximo de cinco dias, mas a Justiça Federal facultou à PF a possibilidade de reduzir o prazo.