LUIZ COSENZO E MARCELO QUAZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ex-companheiros de Carlos Alberto Torres, 72, no Santos e na seleção brasileira exaltaram o espírito de liderança do ex-jogador, que morreu vítima de infarte fulminante nesta terça-feira (25), no Rio.
“Foi um choque muito grande [a morte do Carlos Alberto Torres]. Ele era um líder positivo dentro e fora de campo. Ele se impunha e tinha resposta para tudo”, contou o volante Clodoaldo, 67, que foi companheiro de quarto de Carlos Alberto Torres na Copa do Mundo do México, em 1970, quando a seleção brasileira conquistou o tricampeonato.
De acordo com Clodoaldo, o “Capita” -como era chamado por amigos- teve um papel fundamental no duelo contra o Uruguai, pela semifinal da Copa do Mundo do México. Após o primeiro gol dos uruguaios, ele pediu que Gérson, que sofria uma marcação individual, ficasse mais recuado e liberasse Clodoaldo para atacar.
No final do primeiro tempo, Clodoaldo recebeu dentro da grande área e finalizou cruzado para empatar o jogo. No segundo tempo, Jairzinho e Rivelino marcaram os outros gols do triunfo.
“Ele conversou com o Gérson e com o Zagallo, e decidiram por essa mudança, que foi essencial para vencermos o Uruguai”, relembrou Clodoaldo. “Durante a preparação e a Copa do Mundo o Carlos Alberto Torres sempre me passou confiança de que conquistaríamos o título”.
Já o ex-atacante Pepe afirmou que a morte de Carlos Alberto Torres é “a perda de mais um amigo”. Ele também citou a liderança do ex-jogador. “Era um líder nato. Começava pela voz, que era forte. Se tivesse um grupo conversando e ele chegasse… Exercia um comando, um respeito. Era uma pessoa muito boa gente, o tipo de cara que dava atenção a seus admiradores”.
Pepe foi o responsável por colocar o até então lateral para atuar como zagueiro no Santos.
“Quando parei, em 1969, ele virou o meu jogador. Na época, eu estava precisando de um quarto zagueiro, e as opções que eu tinha estavam difíceis. Aí eu conversei com ele, para ver se ele me quebrava aquele galho e jogava improvisado, e ele aceitou. Lembro que um dirigente da época me perguntou se eu realmente ia tirar o melhor lateral direito do mundo. E eu pensei, bom, lateral eu improviso qualquer um, pra quarto zagueiro eu vou precisar de alguém bom mesmo, e coloquei ele. No fim, ele foi contratado pelo Cosmos pra jogar nessa mesma posição, fiquei feliz por promover a mudança”, contou em entrevista à Folha de S.Paulo.
Integrante da seleção tricampeã, Gérson também exaltou a liderança de Carlos Alberto Torres. “Nós jogadores o elegemos [como capitão], não foi a direção. Pra nós, ele tinha uma importância capital, dentro e fora das quatro linhas. Ele era o capitão, tudo era com ele, organizava tudo. Foi capitão da seleção, do Santos, do Fluminense e do Cosmos. Não era capitão para cara e coroa. Era o Capita. O grupo da década de 1970 não o chamava pelo nome, só de Capita. Então era isso, ele era o cara”, disse ao SporTV.
“Tudo o que gente fazia ele era a principal figura. Todas as principais coisas daquela seleção de 1970 eram com ele. A liderança que ele tinha nunca mais vai ter, pode escrever aí. Nunca mais. Como ele, que se comportava e falava como ele, do jeito que ele era respeitado na seleção, posso dizer: não vai ter outro igual. Todo mundo perde um pouco com a sua morte. O legado? É muito maior que o beijo dado na taça”, completou.  
Tetracampeão em 1994, Carlos Alberto Parreira, que era preparador físico da seleção tricampeã, citou a confiança que o ex-jogador demonstrou momentos antes da final contra a Itália.
“Tem uma história da Copa de 1970. A gente partia para a final contra a Itália, eram umas 10h da manhã. Eu eu era mais novo que ele. Daí ele me viu com cara fechada e seria, e me perguntou: ‘garoto, porque você está tão preocupado?’. E eu expliquei que era justamente porque estávamos indo enfrentar a Itália, ao que ele me respondeu: ‘não se preocupa, com e essa preparação, com esse timaço, nós vamos ganhar mole’. Ele foi um jogador maravilhoso, um líder ao lado de Pelé e Gerson”, disse ao SporTV.