Um fantasma ronda o segundo turno das eleições municipais: o índice de votos nulos e brancos e de abstenções deve bater o recorde histórico no próximo domingo. Se no primeiro turno 30,22% do eleitorado de Curitiba anulou, votou em branco ou não apareceu para votar, a tendência é que agora uma parcela ainda maior deixe de optar entre Rafael Greca (PMN) e Ney Leprevost (PSD). Tanto que os dois candidatos já se mobilizaram para tentar convencer o eleitor a votar.

Vários fatores como a campanha agressiva adotada na reta final da disputa e até o feriadão podem colaborar para a fuga do eleitorado no segundo turno. Entre eles está também a mudança de 205 locais de votação em Curitiba, Maringá e Ponta Grossa, cidades que terão segundo turno no Paraná, em função das ocupações de escolas por estudantes que protestam contra a reforma do ensino médio. São 146 alterações em Curitiba, 32 em Maringá e 27 em Ponta Grossa. O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) está informando por carta os eleitores de Curitiba sobre a mudança.

Outro fator que poderá afastar um bom número de eleitores das urnas é o feriado prolongado no fim de semana da eleição. Em Curitiba, a prefeitura transferiu o feriado do Dia do Servidor, comemorado em 28 de outubro (sexta-feira), para segunda-feira, dia seguinte à eleição. A terça-feira (1º) será ponto facultativo. E no dia 2 de novembro (quarta-feira) será o Dia dos Mortos. Para os servidores estaduais, o feriado do Dia do Servidor será na sexta-feira mesmo. Tradicionalmente, o índice de abstenção aumenta quando a eleição é feita perto de um feriado prolongado.

Somado a isso e ao descontentamento com a política, três candidatos à prefeitura no primeiro turno já declararam neutralidade no segundo turno. Juntos, Gustavo Fruet (PDT), Requião Filho (PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Xênia Mello (PSOL) tiveram 288.465 no primeiro turno, 31,06% dos válidos. PT e PSOL recomendaram o voto nulo; Requião e Fruet não pediram para os eleitores anularem, mas se declararam neutros.

Apelo

Votos nulos e brancos não são contabilizados pela Justiça Eleitoral e não podem anular uma eleição, mas poderão definir a votação de domingo, que deverá ser decidida a cada voto. Diante dessa possibilidade, Rafael Greca e Ney Leprevost já fizeram apelos para o eleitor comparecer e votar. O voto é individual, mas a responsabilidade é coletiva, afirmou a campanha de Greca na TV. Em entrevistas, o candidato tem dito que Curitiba não merece um alto índice de votos nulos. Você, que declara que vai votar em branco ou nulo ou se abster: Curitiba não merece isso. A escuridão é o silêncio da luz. Se vocês se calarem, pode ser que a escuridão vença.

Ojeriza

Leprevost já admitiu, em entrevista no início da semana, que a troca de acusações entre ele e seu adversário pode afugentar parte do eleitorado. Eu acredito que sim. Acho que afasta. Acho triste. Curitiba nunca viu uma campanha tão baixa. Entendo que a pessoas estejam com ojeriza da política. E é justamente por isso que elas devem votar. Se elas deixarem de votar ou anularem o voto, estarão ajudando a ‘velha política’.

Para o cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR, nulos, brancos e abstenções aumentarão, mas não chegarão a levantar suspeitas sobre a legitimidade do eleito. Teremos uma variação, mas não será muito significativa. Os índices caminham dentro da média, nada que possamos caracterizar como um ‘protesto contra o sistema’, avalia. O eleitor acaba optando pelo que considera o menos pior. Um eleição com 50% de votos nulos poderia nos levar a uma interpretação de que os eleitores não estão satisfeitos, mas isso não vai acontecer.