ANA ESTELA DE SOUSA PINTO, ENVIADA ESPECIAL
TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Japão e Filipinas se comprometeram em comunicado conjunto com a “livre navegação no mar do Sul da China”. O documento de 15 pontos foi assinado pelo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, após uma reunião particular que durou 70 minutos.
O encontro, incomum nesse tipo de visita, foi marcado pelo governo japonês para tentar esclarecer pontos controversos da atual política externa filipina.
Segundo o diretor-geral de Imprensa do Ministério de Relações Exteriores do Japão, Yasuhisa Kawamura, Abe e Duterte trataram da aliança dos dois países com os Estados Unidos, das disputas territoriais no mar do Sul da China e da campanha de combate às drogas do governo filipino.
GUERRA ÀS DROGAS
O governo Duterte tem atraído atenção e críticas pela “guerra às drogas” que já deixou 4.715 mortos desde junho, segundo atualização feita nesta terça pela polícia filipina.
Outros 31.420 suspeitos foram presos e 751 mil pessoas serão processadas após serem “convidadas” a se entregar à polícia, numa operação batizada de “toc-toc renda-se”.
Segundo Kawamura, o governo japonês se comprometeu a cooperar em programas de reabilitação de viciados -as Filipinas são o país com maior consumo de cloridrato de metanfetamina (conhecida como shabu no país) segundo a ONU.
O diretor de Imprensa disse não poder dar detalhes da conversa nem dizer se os líderes trataram das execuções extrajudiciais, que respondem por mais de 3.000 dos mortos nas operações antidrogas.
RELAÇÃO COM OS EUA
O Japão tem evitado criticar abertamente os assassinatos nas Filipinas porque seu principal interesse é a aliança militar que permite aos Estados Unidos manter bases em território filipino.
A presença americana serve como contrapeso aos avanços chineses no Sudeste Asiático, região por onde passam anualmente cerca de US$ 5 trilhões (mais de R$ 15 trilhões) em cargas marítimas e onde têm sido descobertas reservas petrolíferas.
Duterte tem dado declarações contraditórias em relação ao tratado militar -a mais recente, na tarde desta quarta em pronunciamento, foi a de que espera quem “talvez em dois anos”, os soldados americanos possam deixar seu país.
Na reunião particular com Abe, o presidente filipino afirmou que o Japão “é um parceiro crucial no diálogo asiático para garantir o respeito à lei, a segurança e a estabilidade à região”.
MAR DO SUL DA CHINA
Embora o Japão não tenha disputas territoriais no mar do Sul da China, seu governo teme que uma atitude leniente dos filipinos na região estimule os avanços chineses no mar do Leste da China, no qual Tóquio e Pequim travam disputa sobre ilhas.
O projeto chinês de controlar as águas do sul também preocupa o Japão porque passa por ali o petróleo que vem do Oriente Médio.
No discurso na tarde desta quarta, Abe elogiou os esforços filipinos de se aproximar da China, mas destacou que ele e Duterte concordaram com “a importância de resolver pacificamente disputas marítimas”.
ECONOMIA
Os chefes de governo não discutiram economia, mas o embaixador japonês nas Filipinas, Kzuhide Ishikawa, assinou um projeto de empréstimo de 21,383 bilhões de ienes (cerca de R$ 650 milhões) para a construção de navios de patrulha de grande porte e programas de agronegócio em Minanao (região ao sul do arquipélago filipino, mais pobre, de onde vem o presidente Duterte).
Segundo Kawamura, antes da reunião particular foram discutidos projetos de urbanização de Manila -incluindo o estudo de viabilidade para a construção de metrô na cidade-, investimentos em estradas e geração de energia e cooperação industrial e na área de tecnologia da informação.
O Japão é o maior importador de bens e serviços das Filipinas e um dos principais investidores no país.
MISS FILIPINAS
Duterte também se encontrou em Tóquio com a candidata de seu país ao concurso de Miss Internacional, Kylie Versoza.
No Japão para participar da prova final, que acontece nesta quinta (27), ela foi uma das centenas de mulheres que lotaram um auditório na terça à noite para ouvir e aplaudir o presidente.
Apesar das preocupações em relação aos modos rudes de Duterte -a imprensa filipina e a americana chegaram a publicar que o Japão se preocupava com o risco de o presidente mascar chicletes no encontro com o imperador-, não houve incidentes diplomáticos até a noite desta quarta (no horário local).