SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Manifestantes foram às ruas nesta quarta-feira (26) na Venezuela para exigir a realização de um referendo sobre a deposição do presidente Nicolás Maduro. Ao menos 39 pessoas foram presas e 20 ficaram feridas nos protestos no país, segundo a ONG Foro Penal. A oposição organizou os protestos, chamados de “Tomada da Venezuela”, após o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) suspender o processo de coleta de assinaturas para a convocação de um referendo sobre o mandato de Maduro.

No início da tarde, o secretário-executivo da aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática), Jesús Chúo Torrealba, convocou uma greve geral para a próxima sexta-feira (28), pedindo a todos os venezuelanos que “fiquem em casa” neste dia. Ainda nesta quarta-feira, o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Henry Ramos Allup, disse que o parlamento vai declarar o “abandono do cargo” por Maduro –o que já seria um passo para caracterizar o crime de responsabilidade no julgamento político iniciado nesta terça-feira (25) pela Assembleia.

Em Caracas, os protestos seguiam pacíficos nesta quarta, ainda que a polícia tenha bloqueado uma avenida que os manifestantes pretendiam percorrer. A manifestação deveria acabar na rodovia Francisco Fajardo com discursos de líderes da oposição.

O governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, disse que o governo deve “retornar à ordem constitucional” e revogar a suspensão do referendo. O líder opositor prometeu que, caso essa demanda não seja cumprida, será convocada no dia 3 de novembro uma marcha, que caminhará até o Palácio de Miraflores, sede da Presidência. “Não somos golpistas, aqui os golpistas estão no Palácio de Miraflores”, declarou Capriles. Em Cumaná, capital do Estado de Sucre, policiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o protesto.

Manifestantes que foram às ruas na cidade de Mérida, capital do Estado homônimo, relataram que dezenas de pessoas ficaram feridas em confronto com as forças de segurança. No Twitter, o diretor da ONG local Foro Penal, Alfredo Romero, disse que ao menos 39 pessoas foram presas em manifestações convocadas pela oposição nesta quarta em cinco Estados: Miranda, Sucre, Guárico, Nova Esparta e Táchira. Os motivos das detenções não foram informados. Apoiadores do governo de maduro também convocaram protestos pelo país para esta quarta. Em Caracas, os manifestantes se reuniram em frente ao Palácio de Miraflores. Lilian Tintori, mulher do líder opositor Leopoldo Lopez, que está preso, participa de marcha em Caracas

REUNIÃO

O presidente Maduro participou nesta quarta de uma reunião com representantes de outros poderes e altos funcionários do governo venezuelano. O encontro instaurou um Conselho de Defesa da Nação para tentar resolver o impasse político pelo qual atravessa o país. Na reunião, Maduro disse que o país deve “encerrar um ciclo de violência política” e lamentou a ausência do presidente da Assembleia Nacional, o deputado opositor Henry Ramos Allup, que participou do protesto contra o líder chavista. “Quero que sejam razoáveis e saibam que todos somos venezuelanos, precisamos impulsionar uma democracia mobilizada”, declarou o Maduro. O presidente reiterou seu chamado por um diálogo com a oposição para resolver a crise política. O Vaticano anunciou esta semana que mediará um encontro entre governo e oposição no domingo (30) na Isla Margarita, ilha no caribe venezuelano.

CRISE POLÍTICA

A crise política na Venezuela se aprofundou desde que as autoridades eleitorais suspenderam temporariamente o processo para a convocação de um “referendo revogatório” sobre o mandato de Maduro. O CNE disse ter encontrado fraudes em assinaturas coletadas pela oposição. Previsto na Constituição venezuelana, o referendo revogatório permite que a população seja consultada para aprovar ou rejeitar a continuidade do mandato de um governante democraticamente eleito.