DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – As ativistas iraquianas Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar, de origem yazidi, receberam nesta quinta-feira (27) o Prêmio Sakharov, entregue pelo Parlamento Europeu. O troféu prestigia os ativistas na luta pelos direitos humanos.
Murad e Bashar haviam sido capturadas pelo Estado Islâmico (EI), e desde sua soltura advogam em prol das mulheres dessa minoria étnico-religiosa perseguida pela organização terrorista no Oriente Médio.
Murad, em especial, tem lutado pelo reconhecimento da morte de yazidis na região como um genocídio.
Milhares de garotas yazidi foram escravizadas e estupradas pelo EI desde que essa milícia tomou grandes porções de território no Iraque e na Síria, em 2014, estabelecendo seu auto-proclamado califado.
O Sakharov foi anunciado por Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu. A cerimônia de entrega deve ser realizada em 14 de dezembro, em Estrasburgo. As ativistas vão receber o equivalente a R$ 170 mil.
Competia também pelo troféu o jornalista turco Can Dundar, condenado a mais de cinco anos de prisão por relatar o envio de armas turcas à Síria. Ausente do próprio julgamento, Dundar está hoje exilado na Alemanha.
O vencedor da última edição do Sakharov foi o bloqueiro saudita Raif Badawi, preso e açoitado devido à acusação de insultar o islã.
Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, também já recebeu o prêmio, criado em 1988 como uma homenagem ao dissidente soviético Andrei Sakharov.
CRENÇA
Os yazidis são uma minoria étnico-religiosa que vive na província de Nínive, no norte do Iraque. Estima-se que haja 800 mil deles.
Os yazidis são etnicamente curdos, uma minoria presente no sudeste turco e norte do Iraque e da Síria. A crença surgiu por volta do século 11, unindo elementos de diferentes crenças regionais, como o zoroastrismo (uma antiga religião persa).
Eles são conhecidos, no Oriente Médio, por cultuarem o anjo-pavão Melek Tawus, que recusou-se a homenagear a criação divina e, por isso, foi castigado.
Para os yazidis, o anjo arrependeu-se e foi perdoado por Deus. Essa diferença em relação ao cristianismo e ao islã fez com que esse grupo fosse considerado “adorador do demônio” e historicamente perseguido. Há diásporas em países como a Armênia.