RENATA AGOSTINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diretor da área de infraestrutura da KPMG, uma das maiores consultorias do mundo, o inglês James Stewart está cético quanto à capacidade do governo Michel Temer de colocar de pé seu pacote de infraestrutura.
Segundo ele, é preciso que, no prazo de dois anos, haja um histórico de negócios bem-sucedidos no setor e, em sua opinião, as condições para que isso aconteça ainda não estão postas.
“Não acho que, neste momento, há apoio suficiente e reforma suficiente para atingir o sucesso no final destes dois anos”, afirmou durante seminário promovido nesta sexta (28) pela Fundação FHC, em São Paulo.
Para Stewart, o sucesso de um programa como o Crescer, como foi batizado o programa de concessões do governo Temer, depende da disposição do país para assumir riscos.
Em sua visão, o governo tem de tomar até mais riscos do que o necessário para que o setor privado se sinta confiante em investir.
“O que foi feito até agora é bem-vindo. Mas meu instinto diz que mais reformas são necessárias para trazer investidores internacionais e transformar o programa na plataforma de crescimento do país”, diz Stewart, citando a oferta de garantias para financiamentos e soluções de proteção cambial, entre outras medidas.
Apesar do diagnóstico, o executivo, que durante nove anos foi presidente da Partnerships UK, órgão encarregado de acelerar investimentos em infraestrutura no Reino Unido, disse estar entre o “otimismo cauteloso e o otimismo” em relação ao Brasil.
E afirmou que a KPMG fará investimentos pesados no país diante da perspectiva de que os negócios no setor cresçam.
BOM MOMENTO
A favor do Brasil, segundo Stewart, está o interesse de empresas e investidores ao redor do mundo em aplicar recursos em projetos de logística e energia.
Segundo ele, o risco tem subido em diversas partes do mundo -por problemas políticos ou pela volatilidade de moedas, por exemplo-, mas isso não tem inibido investimentos.
“Os investidores não estão precificando esse risco no momento. Nunca vimos preços tão altos serem pagos para ativos de infraestrutura”, diz. “Estamos vendo novos investidores surgirem literalmente de todos os cantos do planeta. Do ponto de vista do Brasil, isso é ótimo”.
LAVA JATO
Uma das dificuldades para a entrada de estrangeiros no Crescer é a falta de parceiros locais capacitados, afirmou o executivo.
A Lava Jato implicou todas as grandes empreiteiras, que antes eram as parceiras preferenciais para negócios no setor.
Para Stewart, o governo poderia pensar em formas de facilitar a aproximação de investidores de outros países com companhias locais. “O sucesso desse programa depende dessas parcerias”, afirma.