Cada cabeça uma sentença, cada um é um universo, cada um reage de uma forma, enfim dá para listar centenas de clichês sobre o cada um nosso de cada dia, mas o que será de nós com a mais freqüente dissintonia? Num mundo próspero de conectividade tecnológica nos deparamos com menos relações pessoais por motivos diversos, mas chega ao ponto quase comum da falta de sintonia global.

Vejamos, hoje é mais fácil você ter um perfil de uma pessoa: seus gostos particulares, modo de vida, ocupação, pistas mínimas e fáceis de abordagem, contudo, na hora de sintonizar o canal, a freqüência não se ajusta. As redes sociais mostram as pessoas com cara de sono, com quem saem, como se vestem, quais suas posições políticas, religiosas e futebolísticas, mas não mostram as coordenadas do coração ou da mente. Aparentemente essa janela é exposta nos chats privados. Aparentemente.

E aí quando alguém se dispõe a não ser apenas um avatar, o dial mostra que enquanto um fechou a vida para balanço, o outro abriu para liquidação. O termo é chulo, eu sei, mas há tempos os terapeutas reclamam que nos consultórios, clientes sofrem do recalque da dissintonia.

A psicóloga Luciana Magnani faz uma breve análise de situações corriqueiras vistas nas terapias. Sem generalizações, o casal inicia um relacionamento em momentos e com objetivos diferentes. Em se tratando de relacionamentos heterossexuais, normalmente, a mulher inicia com forte desejo de proximidade. Para ela, a prova do interesse do parceiro é estar perto o tempo todo, participando de todos os acontecimentos diários. Já o homem, começa de maneira mais distante, valorizando a espontaneidade e o momento que dá vontade. Normalmente evita contatos longos e valoriza sua independência (fazer o quiser, na hora que quiser com quem quiser). Com o passar do tempo e evolução do relacionamento, a situação muda. A mulher, já segura dos sentimentos do parceiro, já não quer tanta proximidade, tanto grude, começa a valorizar seus momentos sozinhos, com os amigos, algo não somente se refere ao relacionamento a dois. O homem, por sua vez, busca mais proximidade e se torna dependente. Ou seja, sempre há aquela tensão característica.

Eu entendi num primeiro momento, que as ferramentas digitais serviriam para nos aproximar, nos socializar, estreitar laços, mas às vezes tenho a impressão que sobrevivemos a uma hecatombe, mas cada qual no seu planeta, e a tela é o meio social de atestar que ainda estamos vivos. Uma amiga me diz qual a necessidade de fazer joguinho depois dos 40 anos, quando já vivemos todas as espécies de relações, ser mais direto não significa desespero, mas praticidade, verdade, e de um tempo que não precisa ser perdido. Isso mesmo! Por outro lado um amigo acha que existe uma certa histeria feminina; mulheres doces e inteligentes no contato inicial, mas que escondem a coleira da dominação. Resultado da equação: dissintonia.

Ronise Vilela é jornalista e ativista de redes sociais.