O Brasil joga hoje com a Argentina no mesmo Mineirão onde há 2 anos, quatro meses e dois dias atrás foi massacrado pela Alemanha na pior derrota da história do esporte mundial – não apenas do futebol, mas sim de toda a gama de jogos possíveis. O 7 a 1 deixou marcas na torcida, mas… quais foram mesmo as consequências? Nem mesmo Marco Polo Del Nero, então vice-presidente e procurado pelo FBI, foi atingido. José Marin, menos cauto que o colega, pôs o pé fora do Brasil e acabou preso nos EUA. Mas no âmbito interno, Del Nero segue mandando a vontade, e não há ninguém que se interponha a isso. Dunga, que assumiu a bronca posteriormente, saiu mais crucificado por Felipão, que tem história positiva na Seleção e tocou a vida na China. E então chegou Tite, arrumou a casa e o Brasil pode hoje dar uma tamancada nos Hermanos, com Messi e tudo mais em campo, isolando-se na ponta e ficando a 6 ou 7 pontos de se garantir na Rússia 2018, como favorito ao hexa.

Sim, favorito
Acredite, o Brasil é favorito ao título Mundial em 2018 – um dos favoritos, ao menos – e é exatamente isso que faz com que Del Nero e sua trupe se perpetue no poder, mesmo sucateando os clubes, fazendo negociatas mil e vendendo a paixão popular. E isso por que o Brasil tem talento. Tite, afinal, é um técnico talentoso desde que levou o Caxias a taça gaúcha em 2000. Não quero resumi-lo ao talento: Tite trabalha, estuda, tem carisma e liderança. Venceu 4 seguidas, fazendo 12 gols e tomando apenas 1, com praticamente o mesmo elenco que levou de 7 e que vinha jogando com Dunga, com exceções pontuais. A Seleção tem Neymar, Douglas Costa, Phillipe Coutinho, jogadores-chave em seus clubes na Europa. Coadjuvantes como Marcelo, Miranda, Casemiro, Fernandinho, Firmino. Novidades como Gabriel Jesus, que surgem aos montes. O Brasil tem e sempre teve talento em campo. Com disciplina tática e um técnico atualizado, pode fazer frente a qualquer equipe de futebol. Que é, afinal, o esporte mais equilibrado do Planeta. Os dirigentes sabem disso e mantém as coisas como são. Se o Brasil ganhar em 2018, Del Nero será rei. Se ganhar da Argentina, ninguém mais falará sobre seus problemas com a Justiça. É o que acontece hoje.

Jogo de azar
Recordo do Professor Miranda dizendo que futebol é jogo de azar, ao justificar as escolhas teoricamente corretas que fez pelo Paraná, mas que não deram resultado. Giovani Gionédis, presidente que não subiu com o Coxa em 2006 por conta de incrível gol perdido por Edu Salles embaixo das traves contra o Náutico, no Couto, argumentava o mesmo: como a culpa pode ser minha? É um subterfúgio. O azar de ambos é não ser Del Nero e não poder contar gratuitamente com a melhor mão (pé, no caso) de obra possível. Mas o que não se pode esquecer é que são deles as escolhas. Mario Celso Petraglia também joga com isso. A estrutura que o Atlético tem coloca o clube imediatamente a frente de muitos outros na Série A. Durante anos, técnicos de segunda linha pareciam motoristas ruins no comando de uma Ferrari, opção da diretoria. Chegou Paulo Autuori, um verdadeiro piloto, e arrumou um time meia-boca, deixando-o competitivo. Petraglia então mudou o elenco, mandou Walter e Vinícius embora, deixando Autuori sem as já poucas opções de ataque que tinha. Mas, com salário em dia, conforto e estrutura para treino, bom técnico e grama sintética e aí está, o Atlético briga por Libertadores sem vencer nenhum dos 7 piores times do campeonato fora de casa.
Imagino o seguinte: se as escolhas fossem melhores, onde estaria o Furacão? Se a CBF fosse organizada, ética e transparente, qual o tamanho do futebol brasileiro?

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão