“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las muita vez desperto e abro as janelas, pálido de espanto…
Olavo Bilac
 
As estrelas sempre fascinaram a humanidade, faróis que orientaram os primeiros navegantes, auxiliares valiosas na contagem do tempo e na elaboração de calendários de precisão espantosa, observa-las resultou até em teorias proibidas (e corretas) acerca do movimento da Terra ao redor do Sol.

A astronomia, e sua vertente divinatória, a astrologia, estão entre as ciências mais antigas que praticamos. Ambas se originam do impulso humano de compreender o tempo e o espaço, e como nos inserimos neles. Em busca das respostas às eternas perguntas, de onde viemos? para onde vamos? temos tentado nos projetar além das explicações sensíveis ou mesmo técnicas, exercitando nossa imaginação e revelando nossos sentimentos mais íntimos de medo ou de esperança.

Existem fragmentos de cartas estelares egípcias e babilônicas que datam de quase 4 mil anos antes de Cristo, e supõe-se que seriam usadas para orientação, previsão do tempo e como base para presságios. Grandes monumentos antigos trazem símbolos astrológicos e foram construídos segundo orientações astrológicas, inclusive templos europeus.

Os astrólogos modernos classificam astrologia como ciência social, ligada a vertentes da psicologia analítica de Carl Jung, epítome de linguagem simbólica e até mesmo uma forma de arte; e refutam com veemência a ideia de que pretenderiam prever o futuro e coisas do gênero. Jung afirmou que a astrologia representaria a síntese do conhecimento psicológico da antiguidade, e dessa forma deveria ser reconhecida pela psicologia. Definiu ainda o conceito de sincronicidade, pelo qual eventos externos atuariam no psiquismo da pessoa em determinado momento, defendendo que a posição dos astros no instante do nascimento influenciaria a estrutura psíquica do nascituro, chamando a isso um significante paralelo.

Apesar disso, não há divulgação de nenhum experimento atendendo às normas científicas que demonstre a sua eficiência para descrever personalidades ou elaborar previsões certeiras para o futuro, além daquelas que podem ocorrer em qualquer evento aleatório, num mundo em que tudo parece ter idêntica probabilidade de ocorrer, embora alguns comportamentos possam, evidentemente, predispor mais ou menos a determinadas consequências. No entanto, negar sua importância histórica será negar exatamente o percurso que leva do conhecimento empírico até a ciência, do simples medo ao conhecimento.

Praticamente todos os jornais publicam seções de astrologia, e muitos grandes jornalistas quando iniciantes foram incumbidos de escrever os horóscopos. Um rito de passagem nada apreciado, porém útil no desenvolvimento do estilo e da criatividade.

O conhecimento experimental precede quase sempre o conhecimento científico, e às vezes a distância que os separa pode ser medida pelo preconceito. Assim como a alquimia, vista por muitos como apenas um conjunto de práticas esperançosas para buscar a vida eterna e a fabricação de ouro, mas que também forneceu a estrutura para a criação da química; a observação dos astros com finalidades mágicas foi passo essencial para a realização de observações de caráter científico.

Não podemos ter a pretensão de conhecer tudo; o universo é muito mais vasto do que podemos imaginar e teorias sobre ele são conjeturas incipientes ainda que firmadas nas melhores matemática, física e astrofísica que já existiram. A soma do que nos causa perplexidade supera em muito a do que podemos afirmar com certeza. Às vezes, até mesmo num exercício de humildade, talvez nos faça bem abrir as janelas e a mente para ouvir estrelas.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.