SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A morte do poeta Ferreira Gullar na manhã deste domingo (4), aos 86 anos, deixa o “Brasil de luto”, segundo o intelectual Antônio Carlos Secchin, organizador de “Poesia Completa, Teatro e Prosa”, do escritor maranhense.
Isso porque “Gullar é imenso”, segundo a editora Maria Amélia Mello, que trabalhou com as obras de Ferreira Gullar na José Olympio no passado e, agora, na Autêntica. Maria Amélia, inclusive, trabalhava com Gullar na edição de uma coletânea de artigos sobre artes do poeta, a ser lançada em 2017.
O presidente Michel Temer afirmou que “Ferreira Gullar deixa um vazio imenso na literatura nacional”.
O legado de Gullar é uma obra “sólida, inovadora, forte e, ao mesmo tempo, acessível, nada hermética”, comenta a romancista Nélida Piñon, colega do poeta na Academia Brasileira de Letras -Gullar completaria dois anos de imortal na segunda (5).

Confira a repercussão:
Michel Temer, presidente da República, no Twitter:
“Ferreira Gullar deixa um vazio imenso na literatura nacional. Perdemos um poeta de primeira grandeza.”

Antônio Carlos Secchin, poeta, ensaísta e crítico literário, foi organizador de “Poesia Completa, Teatro e Prosa”, de Ferreira Gullar
“Fui seu amigo pelos últimos 20 anos, durante esse tempo ele me presenteou com o privilégio de organizar sua obra para publicação e levar seu nome como candidato ao Nobel [de literatura]. É muito triste a morte de alguém com a inteligência e a vontade de viver que ele tinha. Ele fazia planos de publicação para os próximos dez anos pelo menos. Gullar deixa uma obra gigantesca ainda não publicada integralmente. Foi um artista multifacetado e um exemplo ético, sempre esteve no lugar certo. O Brasil está em luto.”

Maria Amélia Mello, editora, trabalhou com as obras de Ferreira Gullar na José Olympio e, agora, na Autêntica
“Ele não é só meu amigo de 30 anos: fui editora da obra dele. Estou extremamente triste. Ele costumava dizer que era ‘singullar’, mas, ao mesmo tempo, foi múltiplos. Se você olhar a obra de Gullar, ele estava sempre do lado certo -no rádio, na dramaturgia, nas artes. Estava sempre atuando. Perdemos um homem crítico, atento a tudo o que acontecia. Tinha opinião, era combativo, sempre foi alguém que lutou -inclusive foi exilado- mas nunca se abateu. Gullar foi imenso.”

Nélida Piñon, romancista e imortal da Academia Brasileira de Letras
“Uma vez, depois de tomar posse na Academia [em 2014], Gullar me disse: ‘Eu imaginei que os imortais fossem não fossem tão legais’. Eu respondi: ‘Ô Gullar, você acha que somos trogloditas? Somos a elite intelectual do país’. A morte de Gullar é uma grande perda porque ele estava vital, criador. Ele deixa o que se convenciona dizer ‘obra’, mas nem todo mundo deixa de verdade uma obra. Ele deixou uma sólida, forte, inovadora e, ao mesmo tempo, acessível, nada hermética. Quando ele aborda questões públicas, humanitárias, sempre o faz de maneira poética. Além do mais, ele reflete em sua poesia, de forma soberana, o sofrimento que conheceu em vida. Viveu de perto a problemática brasileira. Foi uma perda real, não só para a Academia, mas para o Brasil, pois ele ainda teria muito a nos dar. Deixa uma herança de alto nível.”

Eucanaã Ferraz, poeta
“Foi um autor que li desde sempre. Como ele tem diferentes facetas, sua poesia tem diferentes momentos e, com isso, Gullar tem diferentes lições a dar. São lições permanentes. Sobretudo gosto de uma sobre aquilo que ele dizia sempre: ‘A poesia nasce do espanto’. Admiro a relação da poesia com a vida dele, com os acontecimentos, com os fatos. Ele nunca tomou a poesia como uma atividade estritamente do pensamento, intelectual; a poesia nascia, sobretudo, de uma relação de urgente com o dia a dia.”

Leonel Kaz, professor de cultura brasileira da PUC-Rio, crítico de arte e editor
“A função da arte é provocar e o Gullar era um provocador. Ele tinha um vigor imenso para a crítica e a polêmica. Ele se nutria dessa força. Gullar tinha a capacidade de mudar de ideias pela ação da vida e do tempo, estava em constante evolução. Possuía uma atualidade e um frescor de pensamento que muitos jovens não têm mais. Sua vida pulsante me fazia muito bem. Ele tinha sempre a palavra pronta para sair da boca. Acredito que Gullar procurava, na arte, dar sentido ao não-sentido das coisas.”

Fernando Gabeira, jornalista e político, no Twitter
“Morreu Ferreira Gullar, amigo, grande maranhense, grande brasileiro.”