Esse texto não é recomendado para corações peludos e céticos de plantão. Pode conter spoiler da vida pós-morte também, então, você que se enquadra nessas categorias, pode desistir agora de continuar a ler. Vai encarar? Então se prepare!

O acidente aéreo que matou 71 pessoas, entre elas membros da equipe da Chapecoense, tripulação e jornalistas, ocorrido na última terça-feira (29), foi sem dúvida alguma uma tragédia. Dela, a comoção globalizada. Na sequência, as inúmeras perguntas que precisam ser respondidas – algumas delas, nem com a prova mais científica terão a resposta.

Isso porque como sobrevivente de um acidente automobilístico, as lembranças se tornam recorrentes quando deparadas com uma situação familiar. Vivi essa experiência há 21 anos e conforme a relatividade do tempo, às vezes parece ter sido ontem, noutras, uma sensação mais distante. Assim que soube do acidente da Chape e a notícia de que havia sobreviventes, me desculpe, eu me foquei neles. Na nebulosidade e processamento de tudo isso na vida. Numa nova vida, no sentido que ela vai ter daqui para frente.

De tempos intolerantes, a tragédia da #Chape mostrou que ainda há luz no fim do túnel. Desde o resgate, a solidariedade dos colombianos, da mobilização nacional, dos gestos mais puros e afetivos capturados nesse mundo câmera, saiba que é exatamente isso que acontece quando alguém passa por um drama dessa natureza. Digo isso mais uma vez como sobrevivente de um desastre, no qual os médicos disseram que eu tinha 2% de chance de sobrevivência. De alguém que fraturou todos os ossos da costela, que perfuram o pulmão. De alguém com estilhaços de vidro em todo o rosto, que totalizam 150 pontos nessa região, enfim, de uma pessoa praticamente condenada à morte.

Além da família, amigos e vizinhos, dezenas de pessoas que até hoje não sei quem são, oraram por mim, mandaram mensagens de solidariedade. Casas de pessoas do interior de quilômetros mil de distância fizeram vigília, padres, pastores, rabinos, pais de santo, ateus se conectaram espiritualmente para minha recuperação. Enfermeiras dedicadas cuidavam de mim, médicos competentes se esmeraram para que eu pudesse ser salva, amigos distantes vieram me ver e ajudar minha família. Amores rompidos esqueceram mágoas e fizeram questão de estar ao meu lado. Enfim, um sobrevivente é uma pessoa que tem missões a cumprir, talvez as mais importantes daqui por diante. Eu tinha todo o quadro para não sobreviver, passei pela tal experiência pós-morte nos minutinhos que o aparelho fez tuuuuu, voltei rapidinho, porque a morte não está sob nosso controle. A vida sim!

#ForçaChape

 

Ronise Vilela é jornalista e ativista de redes sociais