Algumas das melhores coisas da vida são piegas, bregas e soam tão utópicas que parecem tiradas de algum livro de ficção barata, de um conto de fadas ou de alguma história adolescente da Coleção Vagalume.
Ter e especialmente nutrir um sonho de felicidade é um desafio constante. Entretanto, acreditar que ele seja viável é o que me torna humano. Tão humano como qualquer personagem sonhador desta particular fantasia que criei chamada Minha história.
Podemos ser um povo melhor. Podemos ter um país melhor. Podemos ser indivíduos melhores.
A tragédia da Chapecoense causou uma comoção tão incrível quando indescritível no mundo todo. Futebolistas ou não, jornalistas ou não, pilotos e comissários ou não, todos se puseram a refletir sobre a fragilidade de nossas vidas ao perceber a dimensão e o cenário daquele acidente. Percebemos o quão efêmera pode ser uma glória e o quão cruel pode ser a realidade das inesperadas atitudes tomadas por outras pessoas, e que nos afetam diretamente.
Naquele morro próximo à Medelín se espatifaram os sonhos de centenas de pessoas, entre vítimas e famílias, mas também naquela mesma terra também foram plantadas as sementes de esperança de um mundo realmente melhor. O que se viu depois daquela tenebrosa madrugada acendeu a chama da fé de quem acredita.
A demonstração gratuita e pura de carinho dos colombianos me tocou de uma forma que jamais imaginei ser possível.
O insensível chorou. Os insensíveis choraram.
Um exemplo de carinho altruísta jamais visto em minha curta existência de 34 anos. Aliás, tenho quase certeza de que dificilmente testemunharei algo semelhante nos pelo menos 34 anos que me restam. Espero estar errado, é claro.
Os brasileiros que se julgam superiores do que seus vizinhos de América Latina devem tomar o comportamento do povo colombiano como exemplo do que é ser integralmente humano. Desconfiado de que seríamos capazes de promover homenagens tão grandiosas se o acidente fosse com o Atlético Nacional em soo brasileiro, resigno-me. Assumo esta condição de pecador arrependido, que nem chegou a pecar. Reconheço não ter a grandiosidade demonstrada pelos nossos irmãos colombianos e me envergonho.
Ao reconhecer essa falha, afirmo também que as lágrimas que enxuguei há uma semana secaram como uma prova definitiva e reconfortante de que é possível voltar a acreditar que é POSSÍVEL sonhar.
Não tenho a ilusão de que isso bastará para iniciarmos uma nova era de paz no futebol, entre as torcidas e no mundo como um todo. Mas acreditar nisso, imaginar que isso é possível, é que me mantém vivo.
Hoje à noite nos reuniremos no Couto Pereira para mostrar que não estou maluco. Um evento que pode ser tão histórico quanto o da quarta-feira passada no estádio Atanásio Girardot. A ideia não é comparar, mas temos (a nossa sociedade, os brasileiros, os torcedores) a chance de mostrar para nós mesmos de que é possível se unir em prol do bem comum. Se não para colhermos frutos agora, mas pelo menos para oferecer a nossos sucessores um ambiente de mais respeito e amor ao próximo.
Viva Chapecoense. Vivamos um mundo melhor.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.