FABRICIO LOBEL, ENVIADO ESPECIAL* GENEBRA, SUÍÇA (FOLHAPRESS) – Uma tempestade perfeita. Foi assim que o diretor regional para a América da Iata (sigla em inglês para Associação Internacional de Transporte Aéreo) justificou os resultados negativos do setor aéreo no Brasil. Nas palavras de Peter Cerdá, a combinação de uma crise política, econômica e social é responsável pela retração do setor que amarga 15 meses de queda em sua demanda de passageiros.

Cerdá aponta para a redução no Brasil de 12% da oferta no mercado doméstico e 4% no mercado de voos internacionais. “Virtualmente, todas as companhias aéreas [internacionais] reduziram sua frequência ou o tipo de aeronave que serve o país, para evitar a volatilidade da economia […]”, disse ele.

Cerdá aponta que durante os últimos anos, os custos operacionais cresceram 24%, enquanto a receita das empresas no país, cresceram apenas 3,7%. Enquanto isso, a instabilidade política do último um ano e meio trava discussões de regulações que poderiam alavancar o setor. Entre as discussões está a mudança do sistema de tarifas sobre o combustível dos aviões.

No Brasil, cada um dos Estados determina a tarifa do ICMS sobre o combustível da aviação. A grande variedade dessas tarifas, segundo a Iata, atrapalha o desempenho das companhias aéreas. A unificação das tarifas de ICMS no país é um pleito antigo das companhias brasileiras. “Brasil é uma nação produtora de petróleo, ainda assim tem um dos combustíveis mais caros do mundo.

O modelo de precificadas no país não está alinhado com as melhores práticas internacionais e evitam que as companhias brasileiras compitam em pé de igualdade com e empresas de outros países”. Para Cerdá, o governo brasileiro deve assumir o setor como gerador de recursos e trabalhar para reduzir “uma complexa rede de regulamentação” e altas taxas.

Segundo a análise da associação, o pior momento do setor no país já passou, embora ainda deva enfrentar dificuldades nos próximos anos. A projeção da associação é de que a demanda de passageiros deva crescer mais de 70% até 2035, passando de 97,8 milhões para 167,7 milhões. Segundo Cerdá, no entanto, sem destravar a regulamentação e diminuir taxas, esse patamar dificilmente será atingido. * O jornalista viajou a Genebra a convite da Iata