Estamos sob o impacto das notícias sobre a queda de avião que matou dezenas de atletas, jornalistas, e tripulação, em voo que levaria o time do clube de futebol Chapecoense para disputar a Copa Sul-Americana na Colômbia. Além das perdas humanas, perdeu-se uma equipe desportiva que vinha encantando pela trajetória vitoriosa, em apenas sete anos, da quarta à primeira divisão do futebol nacional. Embora ainda seja prematura qualquer conclusão sobre as causas do acidente, segundo especialistas o avião envolvido não teria autonomia de voo para a distância a percorrer entre o aeroporto de origem e o de destino, dentro das regras internacionais que exigem uma reserva de combustível para eventualidades. Aparentemente já havia feito essa rota anteriormente, evitando o inconveniente e talvez o custo de uma escala de reabastecimento.

Um acidente marítimo que chocou o país ocorreu no réveillon de 1988, a embarcação Bateau Mouche IV naufragou na Baía de Guanabara com 142 pessoas a bordo, das quais 55 morreram. As investigações revelaram que havia mais do dobro do número de pessoas permitido a bordo; foram feitas reformas no barco que alteraram perigosamente seu centro de gravidade; as vigias não eram estanques e com o excesso de peso ficaram abaixo da linha d’água permitindo alagamento do porão; para ver melhor a queima de fogos na praia os passageiros se deslocaram todos para um só lado do barco. Com tudo isto, uma onda mais forte do que o esperado deflagrou o acidente. Uma soma de ganância e irresponsabilidade criminosas que ainda não foi punida.

Fala-se que para haver certo tipo de tragédia é necessária uma tempestade perfeita, a conjugação de vários fatores que, somados, levariam ao desenlace. Infelizmente temos constatado que tal tempestade acontece com muito maior frequência do que imaginaríamos.

Situações imprevistas podem ocorrer, e ocorrem, em aviação, navegação, direção de veículos, práticas desportivas, até em simples caminhadas; a observância das regras cabíveis aumenta a possibilidade de que estas situações não redundem em nada mais grave do que um inconveniente. Manutenção cuidadosa, respeito às lotações e cargas permitidas, uso de equipamentos de segurança, condicionamento físico e mental adequados, obediência às leis e regras. Nada disso evitará vendavais, nuvens cúmulo-nimbos, ressacas marítimas, motoristas embriagados, veículos desgovernados e outros fatores naturais ou humanos que podem causar acidentes, mas aumentará as chances de evita-los ou reduzir seus danos.

Muitos motoristas correm riscos desnecessários como dirigir sob efeito de álcool ou drogas, em velocidade excessiva, e se tem a sorte de ficar ilesos sua convicção de que são corajosos, aventureiros, protegidos será reforçada e provavelmente repetirão a imprudência, aumentando a possibilidade de que algo não dê certo para eles e os demais.

Os dois acidentes (entre outros) que enlutaram e enlutam o país aconteceram em parte devido a esse excesso de confiança, infundada, já se havia feito rota aérea com combustível sem reserva de segurança, já se havia lotado o barco muito acima do razoável, e nada havia acontecido de mal, até que infelizmente aconteceu.

Algumas vezes, temas trágicos são utilizados por professores para conduzir alunos a uma reflexão sobre o mundo em que vivemos, nossos comportamentos – adequados ou não – e a necessidade de sermos um pouco mais solidários.

Não tem sido fácil: a imprudência, a temeridade, a desorganização e ausência de competência no exercício profissional podem se tornar contraexemplos para qualquer atividade pedagógica.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.