Sentei, fiquei olhando: cadê? Nada. Zapeia daqui e dali, procura, roda um, dois, três canais. Nada. Opa!, achei algo… não. Só parecido. Cadê você, futebol de quarta à noite?

O ano tá acabando – e que ano horroroso – e já não nos veremos mais. Ok, não posso ser tão chato: de manhã, de manhãzinha, você apareceu. Foi histórico, até. Usaram o vídeo, teve polêmica, tudo certo. Quase tudo, nada contra o Kashima. Vai, América! Mas era muito cedo, e no meu código pessoal, cerveja só depois do almoço. No horário de verão, talvez depois das 10h. De férias, claro.

Por isso contei as horas para a noite. Já imaginei vendo você em algum grande clássico, carrinho na bandeira de escanteio, passe de letra, defesa impossível. Cada vez mais pela TV, menos no estádio. Ah!, o estádio. Esse incomparável centro de lazer e encontros amorosos. Amor mesmo: pelo pai que leva, pela namorada que acompanha, pelos amigos que sempre estão por lá, mas principalmente pela camisa. Só que anda caro demais pra ir, nem sempre seguro. Teve algo de todo mundo junto e misturado por conta da dor ainda não cicatrizada do acidente, mas logo apareceu um manezão daqueles bancando o machão no metrô.

Ao menos tem a TV. Ilha do Retiro, Castelão, Rei Pelé, Mineirão, Maracanã, Baixada, Vila, Couto, Morumbi, Pacaembu, Beira-Rio, Olímpic… ops!, Arena, Arena isso, Arena aquilo, Orlando Scarpelli, Vivaldão, Serra Dourada, ufa, perdi as contas de quantos lugares já visitei só por sua conta, tudo via satélite. De como fiquei íntimo de tanta gente como Moisés Lucarelli, Cicero Pompeu de Toledo, Mário Filho, José do Rego Maciel. Sei mais sobre eles do que sobre o meu vizinho. Pudera, ele mal dá bom dia no elevador. Eles eu encontro, sempre às quartas-feiras.

Vá lá, descansa um pouco então, nos dê essa folga indesejada a ponto de acharmos legal um amistosinho com Amigos de Fulano versus Amigos de Cicrano. Trocaremos a noite pelo dia, sedentos por um reencontro, nos contentando com outras línguas, outras ligas, até você voltar. Uma separação rotineira e esperada, nunca bem aceita, principalmente pra quem conta o ano em Copas e tem no calendário as marcas de todos os jogos entre nós e eles.

Ficaremos aqui, fingindo que somos gentis em liberarmos o controle remoto para a patroa e as crianças, que não víamos a hora de pegar aquele cineminha de quarta (heresia nos convidar em outra época) até concordando com aquela bobagem de ainda bem que agora o futebol dá um tempo, né, amor? Ainda bem pra quem? Humpf.

Vamos contar os dias zapeando, zapeando a esmo, zapeando atrás do que não tem. Aguardando ansiosamente a estreia daquela máquina que estamos montando para a próxima temporada (esse ano, vai!) e lamentando a saída de um ou outro (como pudemos liberar esse cara?!) a ponto de até um joguinho sub-17 nos prender a atenção por alguns minutos. A ponto de achar que o Estadual vai ser legal, sim.

Fazer o quê? Paciência é uma virtude. Que não tenho.

Opa, achei uma NBA aqui.

Vamos caçar com gato. Tapar o sol com a peneira. É o que temos para o momento.

Até 2017, futebol de quarta. Força, guerreiros.