Depois de um ano atormentado e cheio de armadilhas que acabamos de viver,a chegada do Galo de Fogo, do calendário lunar chinês a partir de 28 de janeiro, está sendo esperado como uma verdadeira benção. Afinal, pior não dá para ficar. Então vamos aguardar, mesmo sabendo que sua influência sobre o planeta Terra não será transformada em paraíso. Seria bom demais.

Tudo indica uma melhora sensível dos males que nos aprisionam, embora os remédios tenham efeitos lentos. Será necessário paciência para que o lado positivo da vida consiga sobressair. Mesmo assim, com certeza o mundo debaixo do signo do Galo de Fogo, deverá ser menos egoísta, menos voraz e um pouco mais humano. Que sobressaiam os valores comunitários. Importante que o mundo tome consciência, por pequenos toques, da necessidade de compreensão, de ouvir melhor ao outro, de respeitar os limites de cada um.

As festas em todo o planeta iniciam no dia 27 de janeiro e se estendem por 15 dias. É tempo de reviver antigos costumes, agradar aos deuses e atrair boa sorte. A China adotou o calendário gregoriano no início do século, mas as festas do Ano Novo são celebradas seguindo o calendário lunar. As manifestações tradicionais começam na véspera da lua nova e prosseguem até a lua cheia. Cada ano tem como símbolo um animal do zodíaco chinês e o Ano Novo não é apenas um importante período festivo, mas também celebra, há mais de quatro mil anos, a chegada da Primavera.

A cor da festa é o vermelho, significando boa sorte e afastando as coisas negativas e más. É especialmente efetiva contra o monstro que ataca inocentes durante a véspera do novo ano. Outra tradição é ter o dinheiro da boa sorte embrulhado em papéis vermelhos, cor que também aparece nas faixas que enfeitam as portas, afastando os maus espíritos.

Kung Hei Fat Choy – Que a sua fortuna aumente – é a tradicional saudação em cantonês dirigida ao deus do Dinheiro, contador celestial que, uma vez ao ano, distribui suas riquezas aos terrestres. O deus é rígido em termos de etiqueta: exige que seus presentes sejam em dinheiro da sorte, oferecidos sempre aos pares. Seguindo as boas maneiras, os pacotes não devem ser abertos em público.

A felicidade está no contentamento, acreditam os chineses. Donas de casa preparam grandes quantidades de alimentos especiais para a data e uma geladeira lotada de restos dos banquetes significa que a riqueza continuará beneficiando a família durante o ano todo. A porcelana deve estar perfeita, porque qualquer rachadura ou defeito é sempre uma ameaça ao capital já adquirido. E os pauzinhos de madeira ou marfim, que correspondem ao talher, devem ser do mesmo comprimento. Palitos desiguais impedem que seu proprietário possa usufruir de todas as boas coisas no banquete da vida. O macarrão também é simbólico e quanto mais longo for o corte da massa, melhores serão as chances de longevidade de quem vai consumi-lo.


Aplacar aos deuses, fazer oferendas, coisas que ajudam a afastar o mal e atrair fortuna e saúde

Como uma grande fortuna é um ato da providência e uma pequena, da diligência, fazer uma limpeza total na casa pode apagar todos os traços de maus acontecimentos. Mas é preciso deixar de lado a vassoura na véspera do Ano Novo, porque quem varre a casa no primeiro dia do ano, se arrisca a jogar fora toda a boa sorte a quem tem direito.

Falar também é uma arte e tem regras importantes. Os chineses tomam muito cuidado com o que vão dizer nestes dias, porque muitos símbolos do novo ano derivam de palavras que têm uma consoante favorável. O que explica porque em certos países do sudeste asiático é servido o peixe cru, em grandes bandejas de forma octogonal: em chinês o número oito lembra uma sílaba da palavra prosperidade, cru também pode dizer vivoe peixe tem a mesma raíz de excesso. Com medo que a desgraça se abata sobre todos, palavras lúgubres, como morte, não são jamais pronunciadas.

China quer dizer País no centro do universo e quem iniciou reformas foi o velho Deng Xiaoping, no começo dos anos noventa, ao pronunciar apenas quatro palavras-chave em um palanque: Ficar rico é louvável. Foi uma verdadeira revolução sem armas, despertando o dragão que pudesse engolir o resto do mundo. Com seu pronunciamento, Xiaoping conciliou o que parecia impossível – comunismo com capitalismo, política fechada com abertura econômica.

Shangai foi a primeira cidade chinesa a se beneficiar com a nova modalidade de liberdade. No passado chegou a ser definida como Paris do Oriente e hoje é um laboratório onde são feitas experiências com idéias políticas que nascem em Pequim. O socialismo do livre mercado, outro slogan de Deng, foi concretizado em estradas e novos bairros que continuam a surgir todos os dias. Pena que as jóias de arquitetura que foram as mansões construídas por franceses e ingleses no final dos anos vinte, desapareçam sem misericórdia, dando lugar a museus com aspecto americanizado, biblioteca com uma quantidade de livros que a coloca em segundo lugar na Ásia, só suplantada pela de Tóquio. A inauguração da Ópera, com espaço para a tradicional ópera chinesa, é como uma filial do Metropolitan de Nova York, com todas as atrações líricas ocidentais.

Shangai voltou a ser moderna, com a influência que teve no passado, quando o tratado de Nanquin (1842) abriu Shangai para as concessões estrangeiras, atraindo ingleses, franceses, americanos e japoneses. Cada nação podia então administrar uma parte da cidade como bem entendesse. A eletricidade tinha voltagens diferentes e os franceses faziam postes de cimento, os ingleses de madeira e os trens circulavam em trilhos de bitolas exclusivas. A época de ouro no passado foram os anos Vinte e Trinta, época também que a cidade se transformou em paraíso para aventureiros e espiões que fugiam da Alemanha nazista, da Rússia comunista e dos gangsters americanos. Anos especiais para jogadores, rufiões e missionários. Tempos de dissolução, quando as luzes dos cassinos e dos ambientes noturnos iluminavam bailarinos de tango e de fox-trot.

O filme Império do Sol, de Steven Spielberg, retratou bem o drama daquele universo, visto através dos olhos de um menino inglês. No final da guerra, os estrangeiros já não existiam. Haviam abandonados vilas em estilo Tudor, perfeitas para os campos da Inglaterra, casas de estilo gótico, como era moda na França no final do século dezenove e o primeiro edifício Art Déco. Depois do comunismo, Shangai se transformou na Bela Adormecida.

Hoje a cidade é um aglomerado de hotéis e restaurantes de luxo, onde vivem milhares de novos habitantes, provenientes das regiões rurais e de outras partes do país, fazendo de Shangai um das cidades de maior população do planeta, junto com Cidade do México e Tóquio, que ocupa 6.341 quilômetros, convivendo com a poluição dos carros, fábricas e construções.Foi ao longo do rio Huangpu que se estendeu o Dragão. Em uma das margens fica Pudong, que até fins de 1990 era uma favela de camponeses. Hoje é uma selva de edifício modernos, construídos às centenas.

Enquanto você prepara uma viagem para a China e Hong Kong, saiba que o Galo de Fogo representa precisão, perfeição, dinamismo, intensidade, emoção. E para atingir suas metas é preciso disciplina e esforço. Um bom 2017 para todos.