SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, 68 anos, morreu nesta quinta (19) na queda do avião em que estava, em Paraty (RJ), colocando uma série de dúvidas sobre o futuro da Operação Lava Jato, da qual ele era o relator. Teori estava prestes a decidir pela homologação ou não da delação premiada da Odebrecht, principal empresa envolvida no escândalo.

A expectativa era de que cerca de 900 depoimentos de 77 executivos do conglomerado, muitos ricos em detalhes sobre pagamento de propina e caixa dois a políticos de diversos partidos, fossem tornados públicos por ele nas próximas semanas. Esse cronograma agora fica em suspenso e deve atrasar.

O acidente ocorreu por volta das 13h30, quando o avião bimotor King Air C-90, prefixo PR-SOM, da fabricante Beechcraft, caiu no mar, a cerca de 2 km do aeroporto de Paraty, para onde se destinava. Chovia moderadamente no local no momento. A aeronave havia decolado às 13h01 do Campo de Marte, em São Paulo, com ao menos quatro passageiros.

O bimotor, com capacidade para sete passageiros (incluindo o piloto), pertencia à empresa Emiliano Empreendimentos Participações Hoteleiras, dona do luxuoso hotel de mesmo nome em São Paulo. A bordo estavam também o proprietário do hotel, Carlos Alberto Filgueiras, de quem Teori era amigo desde 2012, e o piloto Osmar Rodrigues, além de ao menos uma mulher, de identidade não informada.

Até as 21h30 desta quinta, os corpos não haviam sido resgatados pelas equipes de busca, e a lista final de vítimas não havia sido divulgada. Também não havia informações sobre existência de caixa preta. A morte de Teori gerou reações nos meios jurídico e político.

O juiz Sergio Moro, titular da operação, declarou que “sem ele, não teria havido a Lava Jato”. Em rápido pronunciamento, o presidente Michel Temer (PMDB) afirmou que Teori “era um homem de bem e um orgulho para todos os brasileiros”.

A presidente do STF, Cármen Lúcia, disse que “o seu trabalho permanecerá para sempre, e a sua presença e exemplo ficarão como um rumo do qual não nos desviaremos”.

As circunstâncias da morte também geraram reações de descrença com a possibilidade de que tenha sido um acidente, dando margem a teorias conspiratórias. Um dos principais investigadores da Lava Jato, o delegado federal Marcio Adriano Anselmo pediu a apuração da morte. “Esse ‘acidente’ deve ser investigado a fundo”, disse. A PF abriu inquérito.

Detalhes do velório e do enterro não haviam sido divulgados até as 21h desta quinta. Com a morte de Teori, a relatoria da Lava Jato deve ser redistribuída provavelmente para um membro da segunda turma do STF -que reúne Gilmar Mendes, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Também abre-se uma vaga para a corte, a primeira indicação de Temer. Especulações iniciais mencionavam o ex-procurador-geral de São Paulo Luiz Antonio Marrey e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.