Terminada a minissérie Dois Irmãos, ela já pode ser considerada um marco de qualidade na TV aberta brasileira. Já se conhecia a excelência do texto do escritor Milton Hatoum. O romance agora é recriado no roteiro de Maria Camargo e na direção de Luiz Fernando Carvalho. Com as devidas adaptações, Maria optou por uma transcrição fiel. Já Luiz Fernando acentuou o tom paroxístico de algumas partes do relato e o espraiou para a história toda. Foi barroco. Criou quase uma ópera familiar de proporções bíblicas, em que o ódio entre os gêmeos acende o fogo que a tudo e todos consome.

Não se pode dizer que a logística de tal produção seja simples. Espichada no tempo, engloba três gerações. Desse modo, os personagens têm de ganhar vários intérpretes. Halim, o patriarca, é vivido por Bruno Anacleto, Antonio Calloni e Antonio Fagundes. A mãe, Zana, por Gabriella Mustafá, Juliana Paes e Eliane Giardini. Os gêmeos, por Lorenzo Rocha, Matheus Abreu e Cauã Reymond.

A narrativa em off, na voz de Irandhir Santos, vai costurando acontecimentos e empresta tom reflexivo a uma trama sempre pontuada pela paixão e pelo destempero. É como se visse tudo à distância, porém conservando o calor dos afetos em seu relato.

O drama familiar de Dois Irmãos não se passa no vácuo. A família evolui junto com os acontecimentos do País e do mundo. O pequeno negócio de Halim torna-se uma venda bem-sucedida quando o ciclo da borracha enche a cidade de dinheiro. Ao mesmo tempo, e pelo mesmo processo, Manaus vai se degradando. As pessoas vão chegando e amontoando-se em palafitas pela periferia.