Bastaram poucas semanas em 2017 para o agronegócio se deparar com desafios, alguns inclusive de ordem difamatória. Mas nada que assuste o homem do campo e a cadeia produtiva do setor, ambas calejadas e habituadas a transformar desafios em combustível para estimular o trabalho e a produção.

Infelizmente, logo nos primeiros dias, nos deparemos com o samba enredo da tradicional escola carioca Imperatriz Leopoldinense, difamando o produtor rural e o setor que tanto contribuem no dia a dia do cidadão, seja produzindo alimento, seja gerando milhões de empregos. A letra imputa aos produtores, de forma injusta e com total desconhecimento sobre o setor, o rótulo de envenenadores do meio ambiente. Os autores certamente são analfabetos em matéria de produção agropecuária.

Vale ressaltar que o uso de agroquímicos é legal. Mais, totalmente indispensável para o país produzir 200 milhões de toneladas de grãos e outros tantos milhões de toneladas de uma diversidade imensa de outros produtos, que estão diariamente na mesa dos brasileiros, inclusive dos diretores e passistas da escola de samba, e em diversas partes do mundo. Repudiamos, assim como outras dezenas de entidades do agronegócio brasileiro, esse samba enredo que a agremiação levará, de forma irresponsável, para a Sapucaí.

Mas não é só daqui que os desafios apareceram. O Chile enfrenta um surto de gripe aviária, provavelmente espalhado pelas gaviotas. O continente latino-americano está em alerta. Uruguai, Argentina, Peru e Bolívia suspenderam as importações dos produtos agrícolas chilenos como forma de não permitir a entrada da doença.

Nós precisamos reforçar a fiscalização dos produtos de origem chilena, na certeza de que a doença não entre no país. Um eventual contágio por aqui poderia ter reflexos negativos imensuráveis, tal o tamanho e a importância da avicultura brasileira para o agronegócio e a economia nacional. Basta lembra que o Paraná é o maior produtor e exportador de frango do Brasil, com venda para mais de 120 países. Não podemos, de forma alguma, correr o risco de perder esses clientes.

Na área de grãos, o primeiro desafio vem do trigo. Após anos amargando a falta do cereal do pão, devido à redução de área e consecutivas quebras de safras, a Argentina, principal fornecedora para o Brasil, volta firme ao mercado, com produção acima das 15 milhões de toneladas. Isso terá impacto direto nos preços do nosso trigo. Quando digo nosso, estou fazendo referência ao Paraná e Rio Grande do Sul, que, juntos, produzem mais de 95% da produção nacional de trigo.

Desde o final do ano passado, o Sistema FAEP/SENAR-PR solicita, junto ao governo federal, medidas de apoio à comercialização do trigo. E continuaremos a fazer isso, para que os preços de mercado do cereal reajam, de modo que os triticultores possam se panejar financeiramente para a próxima safra.

Mas nem só desafios o agronegócio colheu neste início de ano. A safra de verão está em franco desenvolvimento, com produtividade acima do esperado nas regiões onde a colheita já começou, graças ao clima favorável. A expectativa no Paraná é de safra recorde na soja. Ainda, os produtores estaduais ampliaram as áreas de milho safrinha e feijão primeira safra. Na suinocultura, um segmento que sofre há anos, a abertura do mercado sul-africano traz novos negócios.

As boas notícias neste início de ano são para se comemorar. Os desafios, como de costume, devem ser transformados em estímulos pelos produtores rurais, acostumados a trabalhar sob desavenças e pressão. Tenho certeza que homem do campo, como diz o ditado popular, fará uma limonada destes limões, mais uma vez. Ou seja, com criatividade, trabalho, empreendedorismo e determinação iremos transformar esses limões chamados desafios em um limonada de lucros e bons negócios. Mãos a obra.

Ágide Meneguette é presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR