CAROLINA LINHARES, ENVIADA ESPECIAL, E LEONARDO HEITOR VITÓRIA, ES (FOLHAPRESS) – Quase 11 horas após o início da reunião entre mulheres de policiais e secretários do governo, não houve acordo e o movimento que paralisa o policiamento está mantido.

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Segundo o secretário de Direitos Humanos, Júlio Pompeu, a proposta apresentada pelo governo vale até as 6h desta sexta (10).

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Depois disso, ele afirmou que serão tomadas medidas, sem especificar quais. “Seguiremos os trâmites de instauração da lei e da ordem. Qual será o procedimento, cada momento vai dizer, e essa decisão cabe às Forças de Segurança do Estado”, disse, referindo-se às tropas enviadas ao Espírito Santo pelo governo federal.

O encontro começou por volta das 14h30 de quinta (9) e, pouco antes da meia-noite, duas mulheres deixaram a negociação abaladas, afirmando que não havia acordo.

Por volta de 1h10, cerca de 20 mulheres deixaram o Palácio Fonte Nova, em Vitória, de mãos dadas e cantando o hino nacional. Havia uma criança e uma das mulheres chorava. “A última proposta do governo foi falando que não tinha como dar aumento e que chegou ao limite da negociação”, disse Fernanda, porta-voz do grupo. Ela não quis informar o sobrenome. “O salário dos PMs está defasado há sete anos.

O governo não está vendo o tamanho da emergência. O movimento continua”, completou. Presidentes de associações militares também estavam presentes na negociação, mas não serão mais interlocutores do processo após a rodada desta quinta, segundo o major Rogério Fernandes Lima, presidente da Associação dos Oficiais Militares. “Após a resolução do impasse entre governo e manifestantes, as associações de classe se colocarão a disposição para o debate acerca do tema”, disse.

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Com motim da PM, ES tem aumento de violência e pede ajuda do Exército Pompeu, que estava presente na reunião, afirmou que o governo não pode dar aumento aos servidores porque se aproxima do limite prudencial de gastos com pessoal estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. “Estamos impedidos legalmente de dar qualquer aumento a qualquer categoria”, disse.

A proposta é condicionar o aumento linear a todas as categorias ao crescimento na arrecadação do Estado, verificado a cada quadrimestre.

O secretário disse ainda que eventuais crimes praticados serão punidos, em referência aos policiais em greve. “Nos comprometemos a apurar a responsabilidade dos indivíduos com justiça, responsabilizando dentro da lei, sem caça às bruxas.” Pompeu afirmou ainda que esteve em contato com o governador em exercício César Colnago, durante a negociação. “O governador deu a ordem de irmos até o limite legal.”

“Nosso limite é o Código Penal e a Lei de Responsabilidade Fiscal”, disse. Ele fez um apelo aos policiais para que voltem às ruas até as 6h e classificou a situação como “hecatombe”. “É a primeira vez que temos a PM inteira paralisada, isso é crime. Chega. Já deu. Já passaram a mensagem”.

Além de Pompeu, participaram da reunião os secretários de Controle e Transparência, Eugênio Ricas, e da Fazenda, Paulo Roberto Ferreira, além do secretário-chefe da Casa Civil, José Carlos da Fonseca Júnior.

 

DEMORA

Pompeu afirmou que a demora na reunião se deveu ao fato de o movimento das mulheres ser difuso e ter “interesses políticos”.

As mulheres que deixaram a reunião mais cedo, reclamaram de tortura psicológica. “Eles não cederam. Eles davam oportunidade para a gente falar, mas já vieram com a cabeça feita. Inclusive entregaram uma ata que não assinamos. Fomos ameaçadas de sair daqui presas e responder por um monte de coisas”, disse uma das mulheres, que se identificou somente como Gilmara.

“Falaram que se morrer alguém a culpa é nossa”, relatou outra.

“O governo nos ofereceu apenas café e água. Quem levou uns petiscos e refrigerantes para gente foram as associações e advogados que estão nos apoiando. Ficamos desde as 20h sem água para beber”, disse uma terceira.

Segundo esta última, a reunião foi dividida em duas salas. Em uma estavam os secretários e um comitê de sete mulheres, representando o movimento e na outra, o restante das familiares. Houve ainda um intervalo de cerca de duas horas durante a reunião.