Todo mundo nasce ignorante. Desde os primeiros dias de vida somos como uma esponja, absorvendo todas as novas experiências que o mundo nos oferece e arquivando-as no mais complexo e belo arquivo que existe: nosso cérebro. Na verdade todo esse processo começa ainda dentro de nossas mães, sem que tenhamos visto a luz no fim do túnel uterino, a luz da vida propriamente dita. Ouvir, sentir, ver e compreender e aprender. Essa equação deveria nos acompanhar ao longo de toda uma vida, mas algumas pessoas optam por não a respeitar. O caboclo até vê, às vezes sente e de vez em quando ouve. Mas se não conseguir assimilar, não aprender e arquivar tudo aquilo, de nada adiantou a experiência.
Com isso, me ponho a analisar os acontecimentos recentes envolvendo o mundo da bola e o mundo paralelo que o cerca. E o povo parece que não aprende mesmo.

A tragédia com a Chapecoense arrebentou com o coração de todos que praticam a religião futebol, quem acha o esporte uma das mais belas formas de juntar gente e compartilhar emoções. A partir dali vimos uma série de manifestações de solidariedade, de anunciadas mudanças de comportamento para resgatarmos a pureza da arte.

Algumas das atitudes que mais chamaram a atenção foram ações envolvendo torcidas organizadas. A paz e a união de grupos rivais encheu a todos de esperança, ao mesmo tempo que criaram uma desconfiança enorme sobre a sinceridade de tais sentimentos. Bastou a bola rolar pelo país para ver que a realidade é a mesma de sempre.

Torcedores se digladiando pelas ruas do país. Em Paranaguá ou no Rio de Janeiro. Tiro, porrada e bomba. Mortos e feridos. A história é sempre a mesma, apenas com personagens diferentes. E são torcedores sim. Marginais, é óbvio, mas também são torcedores. Também são baderneiros, vândalos e quase sempre bandidos.

Não há solução fácil nem imediata. Podem proibir as organizadas e o escambau. Não vai resolver. O cara que sai de casa para quebrar coisas e ossos, vai sair para ir ao jogo ou para reivindicar passagem de ônibus mais barata.
Precisamos mudar muita coisa para que isso deixe de ser um problema, desde o berço, na educação, no salário justo, na melhor distribuição de renda, na redução da corrupção, em mais saúde, mais caráter. Não é simples. Uma hora tem que começar, mas os benefícios dessa mudança serão sentidos lá na frente, daqui a umas duas gerações.

O que precisa ser feito agora é parar de passar a mão na cabeça de vagabundo e aplicar a punição justa para o ato cometido. Não tem que considerar briga de torcida, assinar TAC e boa. Tem que punir mesmo e, acima de tudo, mostrar isso para a sociedade. Parece que as punições são mais brandas porque eles são torcedores. Não só eu penso assim. Mas se eu enlouqueço e saio pelas ruas batendo em pessoas e quebrando patrimônio, estou ferrado, independente da roupa que estou vestindo.

É incrível que até hoje não tenha se feito nada para ao menos criar no meliante o medo da punição. A turma não tem medo de nada. Fazem chacota dos policiais, pois sabem que no próximo jogo eles já estarão soltos para transformar ruas e arquibancadas em rinhas humanas.

No próximo fim de semana teremos o clássico Atletiba. Mesmo sem valer grande coisa – com o Atlético focado na Libertadores, com time B, e o próprio campeonato ainda estar engatinhando – o jogo vai mexer com a torcida. Os apaixonados, que vão a campo esperando mais um embate de forças da bola, e a cambada que pretende se aproveitar de mais uma chance para o confronto de testosterona.

Que Deus ilumine os imbecis e proteja as pessoas de bem que forem ao jogo. #VâmoVâmoChape!

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.