O Deportivo Capiatá foi valente, jogou bem e mereceu o 3 a 3. O Atlético fez o possível, ainda que tenha falhado em seu ponto mais forte, a defesa. Nada disso é contestável. Mas o resultado e o contexto da partida permitem ao Atlético bradar contra o Mundo: e agora, Conmebol?

Prejudicado dentro e fora de campo
O terceiro gol do Capiatá foi irregular, com a cobrança de escanteio sendo executada fora do quarto de círculo, algo visto em toda a América. Pode parecer irrelevante, mas o futebol é feito de detalhes. Sim, o time cochilou na marcação, três vezes, aliás – um dos trunfos do time paraguaio é a excelente troca de passes. Mas ignorar os erros contra o Furacão é como querer culpar a vítima de um assalto apenas por que ela deu mole.
Esse, porém, não é o principal erro da série eliminatória entre brasileiros e paraguaios. Erros de arbitragem acontecem. É questão de reflexo – ou relaxo, palavras com quase as mesmas letras – humano. O erro mais grave foi o administrativo. E o é, tempo presente, ainda está valendo, por que o Atlético deve buscar seus direitos custe o que custar.

Regulamento rasgado
O Artigo 3, parágrafo 3.4, determina claramente: a série eliminatória deve ser decidida em casa pela equipe de melhor ranking na Conmebol em 2017. O Atlético é o 71º entre os participantes, o Capiatá o 199º. A Conmebol, sem muitas explicações – nem questionamentos – arbitrou o jogou inicial para Curitiba. Rasgou o regulamento.
Se o 3 a 3 de ontem fosse no Paraguai, aceitando o equilíbrio entre as equipes e os méritos do Capiatá, qual seria a perspectiva do jogo de volta? Dizer que a mudança determinada pela Conmebol não altera em nada a série é ignorar um fato fundamental nessa série. Todo e qualquer protesto, ainda que já tardio, segue válido. É uma questão política, como fora em 2005, quando foi alijado de jogar a decisão em sua casa com base no regulamento. Na época, pesou o interesse do São Paulo. E agora pesa o interesse dos paraguaios, hospedeiros da sede da Conmebol. O que aconteceu com o regulamento é imoral.
Uma pena que para o Atlético seu maior reforço nessa área tenha se despedido nessa semana. Domingos Moro, um cara sensacional, educado, combativo, determinado, nos deixou na semana que passou. Um advogado que saberia se virar nesse caso e que deixará como legado – assim espero – o desejo de sempre vencer.

Sintético
Nem Millonarios, nem Capiatá disseram uma frase sobre a grama sintética da Baixada. Nem o PSTC. Quem vai a Curitiba jogar futebol, consegue. Como já conseguiram Coritiba, Grêmio, Palmeiras, Atlético-MG e Vitória.
O resto é choro de quem não conseguiu por em prática suas pretensões.

Atletiba
Muita coisa boa deve acontecer no Atletiba 370, domingo, pelo Paranaense. Os clubes estão alinhados como há muito não se via. Talvez nunca. Rivalidade em campo à parte, Atlético e Coritiba devem protagonizar um duelo histórico nem tanto pelo que possa acontecer em campo, mas principalmente pelo que se falará depois dele. Vivo em SP há 5 anos e digo: ninguém tem tentado assumir tanto o protagonismo do futebol brasileiro como a dupla Atletiba, combativa e inteligente, mas ainda fragmentada pelo sistema.

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão