GUILHERME GENESTRETI, ENVIADO ESPECIAL
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Apresentado para o público na noite desta quinta (16), o filme brasileiro “Joaquim”, de Marcelo Gomes, teve sua sessão de gala no Festival de Berlim marcada por gritos de “fora, Temer”.
Uma parte dos espectadores, que lotaram o Berlinale Palast, empunhou cartazes com dizeres “Temer Raus” (fora, Temer, em alemão). No fim da sessão, o cineasta subiu ao palco fez um discurso contra o governo, afirmando que o Brasil “sofreu um golpe parlamentar”.
Durante a entrevista coletiva após a projeção do filme para a imprensa, pela manhã, o diretor já havia lido um manifesto, assinado por representantes de 11 dos 12 filmes brasileiros em Berlim, chamando o governo Temer de “ilegítimo” e reivindicando a manutenção das atuais políticas públicas de fomento a cinema brasileiro.
O manifesto tem o endosso de outros cerca de 300 profissionais do audiovisual brasileiros e estrangeiros, temerosos com o futuro da Ancine (Agência Nacional do Cinema).
O documento exalta os números da produção audiovisual nos últimos anos, elencando como exemplos de sucesso o recorde de filmes nacionais selecionados para o Festival de Berlim.
O temor dos profissionais que subscrevem o documento tem a ver principalmente com a troca de comando na Ancine. O atual diretor-presidente, Manoel Rangel, deixará o posto em maio após dez anos no cargo.
“Joaquim” é o único título nacional na competição de Berlim. Ficção histórica, reconstitui o amadurecimento político de Tiradentes.
À reportagem o diretor diz que não teme sofrer qualquer tipo de retaliação por causa do protesto.
No ano passado, a equipe do filme “Aquarius” fez um ato contra Temer no Festival de Cannes e enfrentou reveses -recebeu classificação indicativa de impróprio para menores de 18 anos e não foi escolhido para representar o Brasil no Oscar-, o que despertou suspeitas de que estava sendo retaliado pelo governo.
“Seria uma bobagem [a retaliação]”, disse Gomes. “Tem que acabar esse flá-flu. O filme é para todos os brasileiros refletirem sobre o passado e mudarem o presente.”