MARIA LUÍSA BARSANELLI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em seu segundo ano à frente da curadoria do Festival de Teatro de Curitiba, que acontece de 28/3 a 9/4, os diretores Marcio Abreu e Guilherme Weber elegeram o aforismo “Só me interessa o que não é meu”, do “Manifesto Antropófago” de Oswald de Andrade, como norte da 26ª edição da mostra, cuja programação foi anunciada nesta segunda (20).

“Mais do que se apropriar do outro”, afirma Abreu, buscam na frase a ideia de “como a gente se transforma no contato com o outro”. Assim, o festival se volta para debates entre artistas e com o público, como um encontro com o diretor Zé Celso marcado para o dia 4 de abril.

Fernanda Montenegro abre a programação com a leitura de “Nelson Rodrigues por Ele Mesmo”, texto criado a partir do livro de Sônia Rodrigues, filha do dramaturgo.

Uma segunda sessão será reservada a estudantes de teatro, seguida de debate com a atriz. “A gente conseguiu dar uma musculatura maior às ações”, diz Abreu. Haverá interferências nas ruas da cidade com trabalhos dos grupos Tá na Rua (Rio) e Toda Deseo (Belo Horizonte), além da performance “Involuntários da Pátria”, na qual a atriz transexual Fernanda Silva faz uma “aula pública” inspirada na obra de Eduardo Viveiros de Castro.

O trabalho nasceu no Campo, espaço de criação idealizado pelo coreógrafo Marcelo Evelin no Piauí. A curadora também se volta para a mescla de linguagens (das artes visuais e da dança), algo já visto na edição anterior e que flerta com os trabalhos individuais de Abreu e Weber.

INEDITISMO

O ineditismo, explica Abreu, “não é a tônica da nossa curadoria”. Há mais espetáculos na mostra oficial? 38, contra 35 na edição passada. Mas, desses, apenas oito são estreias, como “Eu Sou”, show com elementos teatrais de Gaby Amarantos em que a cantora narra suas raízes africanas e indígenas. Ou “Blank”, texto do iraniano Nassim Soleimanpour sobre a opressão e a violência contra artistas.

Terá uma série de atores -Eduardo Moscovis, Debora Bloch, Caio Blat, Camila Pitanga, Julia Lemmertz e Gregorio Duvivier- revezando-se nas sessões. Outros trabalhos já foram vistos nos palcos brasileiros nos últimos anos. Caso de “Arqueólogos”, da Companhia Empório de Teatro Sortido, “Amadores”, da Cia Hiato, “Nós”, do Grupo Galpão, “Leite Derramado”, do Club Noir, “E se Elas Fossem para Moscou?”, de Cristiane Jatahy, e o musical “Roque Santeiro”, dirigido por Debora Dubois.

Outra frente desta edição, explicam os curadores, é o protagonismo feminino, um “matriarcado defendido por Oswald”. Andrea Beltrão apresenta seu “Antígona”, dirigido por Amir Haddad. Debora Lamm encena “Mata Teu Pai”, com texto de Grace Passô e direção de Inez Viana. Denise Stoklos revisita “500 anos – Um Fax de Denise Stoklos para Cristóvão Colombo”, criado há 25 anos.

Fernanda Torres reencena “A Casa dos Budas Ditosos”, versão do texto de João Ubaldo Ribeiro. Há ainda três espetáculos internacionais, todos portugueses: “Moçambique”, do grupo Mala Voadora, e duas produções de Vera Mantero, “Olympia” e O Que Podemos Dizer do Pierre”.

COPRODUÇÃO

Abreu e Weber pretendem acompanhar, durante todo o seu período à frente da curadoria -que deve durar de três a quatro edições, segundo eles-, os trabalhos de três artistas: Wagner Schwartz, André Masseno e Marcelo Evelin.

Neste ano, Evelin participa com “Involuntários da Pátria”, Schwartz encena “Transobjeto”, com referências a Lygia Clark e Helio Oiticica, e Masseno apresenta “Louca pelo Cheiro do Mar”, uma coprodução dele com o festival que relê a contracultura brasileira dos anos 1960 e 1970.

O Fringe, mostra paralela sem curadoria (cada artista inscreve seu espetáculo), completa a programação com outros 303 trabalhos, 45 deles encenados na rua.

Os ingressos desta edição começam a ser vendidos nesta terça (21) no site www.festivaldecuritiba.com.br e no aplicativo do festival.

As entradas para a mostra oficial custam entre R$ 40 e R$ 70 -as peças de rua são gratuitas.

5 destaques da programação

1. Nelson Rodrigues por Ele Mesmo: Fernanda Montenegro abre a mostra com a leitura, a partir do livro de Sônia Rodrigues 29/3, às 21h, no Teatro Bom Jesus; grátis

2. Eu Sou Gaby Amarantos faz um show com elementos dramatúrgicos em que revisita suas raízes 6/4, às 21h, no Guairão; R$ 70

3. Vera Mantero A coreógrafa portuguesa apresenta dois espetáculos: “Olympia”, inspirada na obra de Manet, e “O que Podemos Dizer do Pierre”, improvisação ao som da voz de Gilles Deleuze dando aula sobre Espinoza 6 e 7/4, às 21h, no Teatro da Reitoria; R$ 70

4. As Palavras Gestuais de Denise Stoklos Denise Stoklos, criadora do teatro essencial, revisita “500 anos – Um Fax de Denise Stoklos Para Cristóvão Colombo” 25 anos após a criação do espetáculo 31/3 e 1º/4, às 21h, no Espaço Thá; R$ 70

5. Para que o Céu Não Caia A coreógrafa Lia Rodrigues de inspira no mito do fim do mundo relatado pelo xamã ianomami Davi Kopenawa 4 e 5/4, às 21h, no Espaço Thá; R$ 70