Se em campo o Coritiba ainda não se acertou, visto que há anos luta apenas contra o rebaixamento, fora dele o Alviverde dá passos firmes rumo a uma mudança de patamar interessante em seu nível de grandeza. Os diretores atuais têm participação nisso, mas a atuação decisiva vem de um inesperado lugar: o rival Atlético, principalmente Mario Celso Petraglia.
Hoje o homem-forte atleticano é o maior consultor da administração Rogério Bacellar. Uma parte (não tão pequena) das decisões politico/administrativas do Alviverde recebe o aval ou sofre influência de Petraglia. E isso, ao contrário do que a maioria possa pensar, é muito bom.

A parceria trata de questões patrimoniais, negociação de verbas, patrocínios e cotas de TV, além da atuação da dupla na Primeira Liga e questões ligadas à CBF. Ao negociarem juntos, os dois aumentam o poder de barganha. A visão de Petraglia em relação a essas questões sempre foi diferenciada, mas até hoje só conseguiu benefícios para o Atlético. Hoje o Coritiba também pode brigar pela sua parte.

Petraglia pode ter defeitos, mas sua visão do futebol como negócio é inquestionável. No discurso ele sempre citou o fortalecimento do futebol na aldeia, mas nunca encontrou no maior rival um parceiro de lutas. Aproximou-se na época de Vilson Ribeiro, mas acabou traído pelo populismo que tomou conta do ex-presidente Coxa. Não há parceria extracampo que resista à paixão dos torcedores.

Essa parceria existe há algum tempo, mas o Atletiba do último domingo foi a materialização púbica. Pouco importa o valor da causa defendida pelos clubes ao se recusar a jogar o clássico. Se foi um protesto contra a Globo, a FPF ou ao sistema (quem sabe o contexto. Um abraço pro contexto). O importante mesmo foi a demonstração mundial de união de forças. A repercussão foi incrível e 90% positiva. Testemunhamos aquilo que pode ser o início de uma profunda transformação no futebol paranaense.

As mudanças podem beneficiar, inclusive, aqueles que se voltaram contra a decisão da dupla, como Foz do Iguaçu, Cascavel e Paraná, que emitiram notas criticando a dupla e defendendo a Federação. Não se buscou apenas a valorização só das cotas da dupla, mas sim do campeonato como um todo. A raiva não deve ser contra a dupla ou mesmo contra a Globo, mas sim contra a FPF que não faz nada de efetivo para tornar o campeonato mais atraente e lucrativo. As tabelas esdrúxulas e as decisões administrativas estapafúrdias que o digam.

A Arena Atletiba é outro grande passo. Apesar de o tema causar ojeriza na maioria dos torcedores, esse passo poderia representar a salvação dos clubes e a subida de nível em termos de Brasil. A medida ajudaria o Coxa a sair da lama de dívidas em que se afundou, daria ao seu torcedor um estádio fantástico e possibilitaria a construção da Areninha, que poderia trazer a longo prazo lastro financeiros para as equipes. Ao Atlético, a parceria poderia representar mais fluxo de caixa, ajuda na quitação dos débitos da reforma do estádio e custeio de manutenção dividido.

É óbvio que a questão enfrentará resistência na visão limitada construída só na rivalidade. O futebol que vive só de tradição morreu e quem se recusa a entender isso tem dificuldades de sobreviver hoje em dia.

Pode ser que a parceria entre Atlético e Coritiba não chegue ao nível de se dividir um estádio, mas não concebo um torcedor sequer que não aceite a briga da dupla por melhores condições. Há décadas ouvimos falar que os clubes deveriam brigar pelos seus interesses e os interesses do futebol paranaense. Isso está acontecendo. Todos nós podemos ajudar nessa luta para que os benefícios que dela virão sejam aproveitados por todos.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.