GABRIEL ALVES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O médico hematologista Dimas Tadeu Covas, que até então estava à frente da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, será o novo diretor do Instituto Butantan, após a saída do médico e imunologista Jorge Kalil.
Covas, especialista em hematologia, é professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, e tem projetos de pesquisa relacionados à coagulação do sangue e ao uso de células-tronco da medula e da veia umbilical para fins terapêuticos, entre outros.
A reportagem procurou Covas e, segundo sua assessoria, ele está viajando e deve falar com a imprensa somente após ficar a par da situação no Butantan.
Ele assume após a exoneração do médico imunologista Jorge Kalil, professor titular da Faculdade de Medicina da USP que comandava o Butantan desde 2011.
SAÍDA
No meio acadêmico, a saída de Kalil foi recebida com surpresa. Mayana Zatz, geneticista da USP, disse à reportagem que Kalil “é um cientista respeitadíssimo, uma unanimidade, e, além de tudo, um excelente gestor –e é difícil unir essas qualidades em uma pessoa só. O cientista geralmente é desligado, não sabe ou não gosta de lidar com dinheiro.”
“Ele levantou o Butantan, os projetos que ele dirigia iam muito bem e devem dar resultado em breve. Sua saída é um retrocesso para a instituição e para o país.” Para ela, os problemas da pesquisa geralmente se dão por causa da burocracia, e a implementação dos projetos acaba sendo a parte mais difícil.
Funcionários do instituto foram na manhã desta quarta (22) ao aeroporto de Guarulhos recepcionar e mostrar apoio a Kalil, que regressava de um congresso na França. Também há um abaixo-assinado na internet que pede a permanência de Kalil no comando –sua gestão costuma ser bem-avaliada pelos pesquisadores do instituto
O governo Alckmin decidiu tirar Kalil do cargo no mesmo dia em que a reportagem divulgou que uma fábrica de hemoderivados estava há nove anos sendo construída e longe de ser terminada –o valor investido até então somaria R$ 239 milhões.
Um entrave para a implementação, no entanto, seria a disponibilidade de plasma sanguíneo –que depende de um excedente do que seria aproveitado pela Hemobras, empresa da união localizada em Pernambuco.
Para Paolo Zanotto, também professor da USP e um dos cientistas mais reputados do país na pesquisa relacionadas ao vírus da zika, a responsabilidade do não funcionamento da fábrica é resultado da “falta de entrosamento com as agências federais” por parte do Governo Alckmin. “Kalil é um pesquisador e líder genial e continua relevante e necessário”, disse em sua conta do Facebook.