O sírio Saeed Gamal Rassam é repositor de hortifrútis no Sacolão da Família da Prefeitura em Santa Felicidade. Morador da cidade de Alepo, ele conheceu Curitiba pela internet e escolheu a cidade como nova morada para fugir da guerra que assola a Síria há seis anos. Eu vi na internet: Curitiba, a melhor cidade do Brasil. E decidi vir pra cá, conta.

Refugiados da Síria vendem salgados árabes

Antes de desembarcar no Brasil, o jovem tentou a sorte em quatro países: Jordânia, Egito, Turquia e Iêmen. Em sua terra natal, ele trabalhava em uma fábrica de plásticos, com base na formação técnica que tem na indústria mecânica. Sem opções de trabalho nos locais por onde passou, deixou a família – pai, mãe e um casal de irmãos – e partiu sozinho rumo ao Ocidente, enquanto os familiares buscaram refúgio no Iêmen.

Chegou à capital paranaense há três anos, comunicava-se em inglês e árabe, sem falar uma palavra de português, como a maioria dos refugiados que vêm para cá. Com a ajuda de um amigo árabe que vivia em Curitiba, hospedou-se em um hotel, tentou empregos, mas com o fim do dinheiro acabou indo dormir na rua. Viveu nas ruas de Curitiba por quatro dias, em 2014, até ser encaminhado ao Recanto Franciscano, no Butiatuvinha, onde teve abrigo.

Primeiro foi sofrido. Não falava português e não tinha como conversar com as pessoas. Não quis incomodar meu amigo, que é casado, e acabei ficando nas ruas por quatro dias. Depois fui para o abrigo franciscano, explica.

Hoje, aos 29 anos, Saeed Rassam tem trabalho, carteira assinada e mora de aluguel. Há seis meses é repositor de hortifrútis no Sacolão da Família de Santa Felicidade, emprego que arrumou após ter feito o curso de manipulação de alimentos da Prefeitura. Moro em Santa Felicidade. Aluguei casa e assim que consegui trabalho deixei o abrigo, porque há outros refugiados que precisam, conta ele.

Ativo no trabalho, introvertido na conversa, o sírio teve um encontro inusitado com o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, que visitou a Regional Santa Felicidade. Gosto dele. Ele tem um coração grande. Foi a primeira vez que encontrei o prefeito e ele me desejou boas vindas e disse que está muito triste com o que acontece na Síria, conta.

Envolvido com Curitiba, Rassam diz que não quer voltar à Síria. Devastaram tudo, ressalta. Para ele, a guerra tem motivos religiosos e também o interesse do presidente sírio, Bashar al-Assad, em permanecer no poder.

Sobre a família, diz que mantém contato pela internet. Que estão bem no Iêmen, já que o pai é iemenita e a mãe de origem síria. Mas sonha em trazê-los a Curitiba no futuro. De Curitiba, diz que o que mais gosta é que a cidade é limpa, as pessoas são gente boa e tudo é organizado. E completa: É igual à Europa.

 

A cidade

A cidade de Alepo, onde morava Rassam, fica no Nordeste da Síria e é próxima da divisa com a Turquia. A Síria faz fronteira com o Líbano a Oeste, com a Turquia, ao Norte, e com o Iraque ao Leste. Ao Sul fica a Jordânia e a Sudoeste Israel.

Alepo é a capital de uma província que leva o mesmo nome. Antes da guerra era a maior cidade da Síria, com 2,3 milhões de habitantes.