Na coluna desta semana queria propor uma reflexão: Porque as próprias torcidas organizadas não decidem se extinguir? Não haveria ato de amor maior aos seus times que uma decisão como essa. A partir de hoje, é ao escudo do nosso time que devotaremos nosso amor, por ele cantaremos e para ele torceremos. Parece bobo né? Mas será que é?

Após a tragédia com o time da Chapecoense no ano passado vimos as mais tocantes e sensíveis demonstrações de humanidade. Um sentimento puro, de solidariedade à dor de desconhecidos e atitudes bonitas vindas inclusive de onde menos esperávamos. Algumas destas manifestações geraram muita comoção e empatia, como a união de torcidas rivais que cantaram em nome de uma única bandeira, sem brigas e conflitos.

Os mais céticos, eu inclusive, desconfiaram da boa vontade destes atos. Embora tocados pelo gesto, sabíamos que não existe tragédia grande o suficiente para mudar a cabeça de alguns imbecis que saem de casa com o único objetivo de socar a cara daquele desgraçado que torce pro outro time. Mesmo ainda em março vemos que nada mudou. As brigas de torcida continuam roubando a cena. Vandalismo e violência envolvendo torcedores organizados ou não. Muita imbecilidade e impunidade.

Conheci muita gente boa dentro das organizadas aqui de Curitiba. Pessoas que realmente defendem a paz entre torcidas rivais e promovem ações e eventos beneficentes para levar à sociedade um conceito diferente do que é torcer. Mas têm os tralhas que sempre estragam tudo. Tem muito jaguara no meio dessa gente boa. Maloqueiros, bandidos e uma corja que mal sabe o resultado do jogo no final das contas.

É triste ver no que algumas organizadas se transformaram. Se não são culpadas na maioria das ocorrências, são coniventes com muitos destes conflitos. As discussões acerca deste tema são mais antigas que eu e boa parte de vocês. As organizadas surgiram para incentivar o time, ser um ponto de encontro, animar os jogos e levar alegria para as arquibancadas.

Hoje pela ação de muitos de seus próprios integrantes se transformaram em uma espécie de poder paralelo. Uma organização capaz de decidir o futuro dos times, pressionar dirigentes, apavorar jogadores e afastar outros torcedores do estádio. É muito fácil encontrar gente que torce (e briga) pela torcida, não mais pelo time. Ao invés do Lê Lê Lê ou Daleô, os gritos são pela organizada, ou pela briga com a Polícia Militar ou sodomização sexual dos adversários. Agitam uma minoria ao invés de cativar a maioria. Torcem pra torcida.

Dirigentes das fações falam que a torcida só existe por causa do time, que ele é a razão e o fim de tudo. Mas a realidade é outra. Consomem apenas a organizada, com o time em segundo plano.

Porque cantar por Fanáticos, Império ou Fúria e não cantar por Atlético, Coritiba e Paraná nas arquibancadas? Porque ser da Fiel é mais importante que ser do Corinthians? Qual é a razão disso? Não estou sendo irônico. Queria entender mesmo. Se o time é o que realmente importa, porque usar o nome da organizada nas horas de pressão, após uma bola na trave ou uma defesa espetacular?

Quando noticiamos uma confusão, no estádio ou no bairro mais distante, as organizadas sempre levam a culpa, mesmo que às vezes não a tenham. Elas são o alvo da ira de todos que brigam pelo fim da violência no futebol, associando-o ao fim das próprias organizadas.

Se elas são o problema e o time é o que realmente importa, porque então as torcidas organizadas não tomam à frente dessa eterna polêmica e não fecham as portas? Não estou apontando ninguém como culpado, mas se o time é o fim, porque a organizada precisa ser o meio? Não é só torcer? Porque então não torcer realmente para o time, inclusive consumindo os produtos dos times, ajudando diretamente na manutenção das contas em dia.

Sei lá. Queria entender a real importância e função das organizadas. Elas animam o estádio e apoiam ao time só porque se vestem diferente e se reúnem num setor específico? Não seria melhor cantarmos todos juntos, em qualquer lugar do estádio? Não émais preciso se esconder atrás de uma camiseta ou mascote diferente. Somos todos iguais, do camarote à geral.

Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.