Não existe igualdade de direitos se não houver respeito e oportunidades na mesma proporção. Na quarta-feira foi comemorado o Dia Internacional da Mulher, porém fica cada vez mais nítido que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para, de fato, apresentar novos avanços na luta social, econômica e política das mulheres.

O Fórum Econômico Mundial apresentou, em 2016, um ranking dos países com maiores índices de igualdade de gênero e o Brasil ficou apenas na 79ª posição do total de 144 países. O péssimo resultado é reflexo de baixas oportunidades no mercado de trabalho, alto índice de violência doméstica e pequena representatividade na política.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) as mulheres representam 51,5% da população brasileira, bem como apresentam maior nível de escolaridade que homem. Apesar da expansão da participação feminina no mercado de trabalho, elas ainda não recebem as mesmas oportunidades, com apenas 37% de cargos de chefia em empresas e salários aproximadamente 25,5% menores que o do homem.

O cenário piora quando percebemos que a desvalorização e o preconceito contra a mulher no mercado de trabalho parece estar enraizada em nossa cultura. Estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que 21 milhões de homens acham correto a mulher assumir cargo de menor remuneração devido a licença-maternidade, enquanto 20% consideraram constrangedor a mulher ganhar mais que o homem.

Os dados negativos, porém, não se resumem a questão profissional. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil está na 5ª posição entre 83 países com maior índice de homicídios de mulheres. Apesar de avanços, especialmente com a Lei Maria da Penha, a violência doméstica ainda é uma realidade constante que precisa ser combatida em todas as esferas.

Por fim, na política, os números também estão longe do ideal e mostram que apenas a inclusão de leis não são o suficiente para ampliar a participação da mulher no setor. Mesmo com o estabelecimento de cota proporcional de 30% das candidaturas para mulheres, além de outras leis que estipulam que partidos precisam destinar 5% da verba do Fundo Partidário para a formação política feminina, o número de prefeitas caiu de 11,84% em 2012 para 11,6% em 2016, enquanto no legislativo o país ocupa apenas a 155ª posição entre 193 países na questão da representação feminina.

Com números ainda muito distantes do ideal, não podemos deixar que o Dia Internacional da Mulher torne-se apenas uma data comemorativa e de homenagens, mas aproveitá-la para estimular o debate e reflexão a respeito da igualdade de gênero no Brasil. A melhoria real deste cenário passa, obrigatoriamente, pela criação de leis e programas que ampliem a participação feminina em todos os setores, mas só se tornará uma realidade quando também estiver inserida na cultura e comportamento de todos em nosso país.

 

Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)