JOANA CUNHA, ENVIADA ESPECIAL
IRECÊ, BA (FOLHAPRESS) – O abate de um porco, um boi ou um bode é um evento social nos municípios da zona rural que circundam a cidade de Irecê.
Compadres e vizinhos se reúnem em torno do matador para fumar um cigarro, mascar fumo e “prosear”, em meio aos berros do porco da vez.
O encontro acontece ainda antes do amanhecer, para aproveitar a brisa fresca e realizar o longo trabalho de limpar e cortar o animal antes dos raios mais quentes do sol do sertão.
Quem aplica os golpes é o matador, um morador do bairro reconhecido pela habilidade em tirar rapidamente a vida do bicho, abreviando o sofrimento. Seu trabalho é recompensado com partes do animal abatido ou pequenas quantias em dinheiro.
Os cachorros chegam junto na expectativa de que lhes sobre um osso para roer e o sangue escorrido na chão para farejar.
A escolha do animal, feita na noite anterior, tenta estimar a demanda com base na experiência de quem cria e de quem vende.
O objetivo é acabar com toda a carne em, no máximo, três dias, enquanto o produto está fresco.
Nem toda a carne é destinada ao consumo próprio. O que resta pode ser trocado com produtores de café ou milho, por exemplo. Os açougues da região também são abastecidos com a carne dos pequenos produtores.
Para o bode, o instrumento mais adequado é um pedaço de pau. Facões, machados ou tiros são usados em porcos e bois.
Se há muita carne guardada no freezer de amigo açougueiro, o selecionado é um bicho menor.
É por esse motivo que a maior parte dos abates acontece aos sábados, para antecipar a demanda dos churrascos de domingo. Às segundas-feiras, os matadores voltam ao trabalho para abastecer as feiras de rua que acontecem no início da semana.