FELIPE GIACOMELLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Artistas de coletivos da cidade de São Paulo fizeram na tarde desta segunda (27) um protesto contra o congelamento de 43,7% da verba da Secretaria Municipal de Cultura da cidade neste primeiro ano da gestão João Doria (PSDB).
A manifestação teve até geladeiras, levadas pelos artistas para simbolizar o descongelamento do orçamento. Pintadas com os dizeres “cultura”, por fora, e “pública”, por dentro, eram usadas em uma performance na qual artistas entravam nelas para indicar o congelamento. Tochas e cuspidores de fogo também eram usados para “descongelar”.
Durante a performance, artistas com o corpo pintado de prata e vestidos de caveira também entravam e se posicionavam próximos às geladeiras.
Organizado pela Frente Única de Cultura, formada por diversos coletivos, o ato começou durante a tarde em frente ao Theatro Municipal. A ideia era que o protesto acontecesse nas escadas do teatro, mas um gradeado impedia que os manifestantes se aproximassem do prédio, o que foi alvo de críticas.
“No Dia Internacional do Teatro, o acesso do público ao Theatro Municipal está bloqueado”, reclamou um dos organizadores ao microfone. No ato realizado em fevereiro, não havia a barreira, e a manifestação pôde ser feita nos degraus.
Em meio às falas, a palavra de ordem “descongela já” era a mais popular. A outra, “fora, Sturm”, ganhou força quando o protesto se dirigiu à secretaria da Cultura, onde pedia a saída do atual secretário, considerado pelo movimento “um inimigo da Cultura” . O congelamento era tratado com “um ato sem perdão”.
Na frente da secretaria, apesar dos pedidos, Sturm não apareceu. No lugar, o ator Pascoal da Conceição interpretou Mário de Andrade (personagem que já havia vivido em “JK” e “Um Só Coração”, duas séries da Globo), que também já ocupou o posto de secretário da Cultura da cidade.
“Sou o Mário de Andrade do século 21”, disse o artista, antes de declamar “Ode ao Burguês”, famoso poema do escritor. O ato, então, dirigiu-se à prefeitura.
Em todo o protesto, cantava-se uma música contra Doria, com as principais pautas do protesto. “Escuta aqui, senhor João Doria / Acaso sabe vossa senhoria / que Cultura não é mercadoria” e “Cultura está acima de partidos / É pão e poesia”.
No início de 2017, a gestão Doria anunciou um congelamento de 43,7% da verba (equivalente a R$ 197,4 milhões), o que, segundo os manifestantes, coloca em risco e inviabiliza projetos culturais da cidade, como o Circuito Municipal de Cultura, o Spcine, e a manutenção do Centro de Memória do Circo, além de programas de fomento a dança, teatro, cinema e música.
O congelamento integra proposta da prefeitura de contingenciar, em todas as pastas, 25% das verbas para as chamadas atividades de custeio, e 100% das verbas para bancar projetos.
Com isso, contudo, programas como os de fomento ao teatro, ao circo e à dança foram interrompidos.
Segundo André Sturm, secretário municipal da Cultura, afirmou à Folha no começo de fevereiro, eles acabaram indo parar sob a rubrica de “projetos” na hora em que o orçamento foi votado na Câmara dos Vereadores. Ele afirmou ainda que a situação estava sendo resolvida e nenhum fomento seria zerado.