Curitiba é a capital brasileira da alimentação saudável. De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2012, 11% da população curitibana se diz vegetariana ou vegana, o segundo maior índice entre as capitais do país, atrás apenas de Fortaleza, com 14%. Isto corresponde hoje a 227 mil curitibanos que excluem de suas dietas todos os tipos de carne e alimentos derivados — no caso dos veganos.

Chefs estimulam a alimentação saudável

Diante da crescente demanda, muitos empreendedores têm sido levados a investir no segmento. Já existem no Brasil cerca de 230 restaurantes vegetarianos e veganos, além de um boom de lançamentos de pratos e lanches veganos em restaurantes e lanchonetes não-vegetarianas. Na Capital, são pelo menos 40 estabelecimentos, entre restaurantes, armazéns, empórios e lanchonetes, voltados exclusivamente para esse público, cujas vendas em 2015 ultrapassaram os US$ 27 bilhões no país, segundo levantamento da Euromonitor.

Cultura veg vai muito além do prato

Para a especialista em alimentação Fabiana Crivano, o fortalecimento desse nicho de mercado é reflexo das mudanças de hábitos dos brasileiros. A população tem se preocupado cada dia mais com a saúde, isso faz com que eles busquem novas alternativas para uma vida mais saudável e busquem opções no mercado para isso, afirma, apontando ainda que o futuro é promissor.

Hoje a procura por alimentos saudáveis cresce três vezes mais do que a por alimentos ditos convencionais, o que vêm incentivando empresas a pesquisar e investir nessa área.
Na Capital, uma das empresas que vem apresentando bons resultados é VegAninha – Armazém Vegano (Rua Eugênio Flor, 468, Abranches). Inaugurado na primeira semana de agosto do ano passado, as vendas no estabelecimento vêm crescendo em média 40% ao mês. Ali, os clientes encontram diversos tipos de carnes vegetais como salsichas, linguiças, bifes e hambúrgueres, além de outros produtos como bolachas, cereais, produtos de limpeza, higiene pessoal e cosméticos.

O movimento superou nossas expectativas. Mostra-se em crescimento e o mercado em si está se demonstrando aquecido também pela grande variedade de opções que estão surgindo, diz Andrey Sanson, proprietário do VegAninha. No ano passado crescemos 40% ao mês, sendo que um terço dos nossos clientes não são nem veganos, nem vegetarianos, mas aquele pessoal que vem realmente buscar uma alternativa para o consumo de carne, questão de uma alimentação mais saudável, complementa.

Outro estabelecimento que tem aproveitado a crista da onda é o Verd & Co (Rua Coronel Dulcídio, 588, Batel), especializado em comida saudável e criativa. Em sua área externa, o estabelecimento possui cerca de 100 vasos, nos quais cultiva temperos como hortelã, manjericão, alecrim, pimenta e orégano, além de verduras, como espinafre, alface e beterraba.

O objetivo é desmistificar essa ideia de comida saudável ser sem graça.

Nosso objetivo aqui no Verd & Co é justamente esse, desassociar a comida saudável da ideia de comida sem graça, diz Germano Bohrer Oppitz, sócio-proprietário do Verd & Co.

 

Mercado mira na formação profissional

Para atender a demanda do mercado e formar mão de obra qualificada, instituições de ensino têm apostado em cursos especiais para o segmento. O curitibano Centro Europeu, principal escola de gastronomia do Brasil, lançou recentemente seu curso de especialização em Cuisine Santé (Cozinha Saúde). A atividade, com duração de quatro meses, tem por objetivo o estudo de um vasto conteúdo relacionado às práticas da alimentação saudável, trabalhando com temas como cozinha funcional, cozinha orgânica, cozinha restritiva, comfort food e pães especiais.

Nos últimos anos, tem crescido consideravelmente o número de pessoas que buscam uma vida mais saudável por meio da alimentação, consumindo produtos de forma equilibrada e seguindo os princípios da sustentabilidade e da gastronomia responsável. Pensando nisso, chegados ao nosso curso especial, voltados para chefs de cozinha, nutricionistas e gastrônomos, que capacita os participantes com técnicas e conhecimentos que os tornam profissionais diferenciados e sintonizados com as novas exigências do segmento da alimentação. Essa é uma tendência que chegou para ficar, aponta Rogério Gobbi, diretor acadêmico do Centro Europeu.

No Verd & Co é oferecida uma grande variedade de produtos, que vão do café da manhã ao jantar. Os preparos são frescos, saudáveis e saborosos. Nossos clientes tem as mais diversas opções, diz Germano Bohrer Oppitz.

 

Há até iFood para veganos

Para ajudar aqueles que procuram por uma alimentação mais saudável, a tecnologia pode ser de grande ajuda. É que com a moda dos deliverys tomando conta do setor de restaurantes e lanchonetes, o nicho de mercado dos veganos também vem se adaptando, como comprova o BeVeg, que tem como proposta principal reunir o maior número possível de estabelecimentos veganos e vegetarianos para o acesso em tablets e celulares.

Em Curitiba, são 35 empresas conectadas ao aplicativo, que conta com restaurantes, lanchonetes, cafeterias, mercearias, empórios e lojas de suplementos. A ideia é, no futuro, cadastrar também lojas de roupas, calçados, produtos de higiene e muito mais, tudo dentro da cultura do vegetarianismo/veganismo.

 

Cultura veg para além do prato

Quando se fala em veganismo, é inevitável que para a maioria das pessoas os primeiros pensamentos que surjam sejam relacionados à alimentação. Na verdade, porém, a questão se encaixa numa gama riquíssima de nichos de mercado, no qual a alimentação é apenas um deles: há ainda produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza, cosméticos, vestuário, calçados e joias, entre outros.

Nessa questão do veganismo, a alimentação é só um dos mercados. É uma coisa muito grande, que vai desde pneus de carros, que são feitos com sebo de boi, afirma Andrey Sanson, proprietário do VegAninha. A alimentação está explodindo, mas vai ser só um dos primeiros passos. A demanda (por produtos veganos) é muito grande, maior até que a procura, finaliza.