Certa vez, li um artigo de Arnaldo Jabor em que ele comentava hábitos imperdoáveis de mau gosto no visual das mulheres — na semana seguinte ele também escreveu sobre hábitos masculinos. Entre as coisas apontadas como detestáveis, o colunista destacou, por exemplo, a ideia de pintar florezinhas nas unhas, usar jeans muito enfeitados com estampas e metais, perfumes muito fortes ou muito doces e até as unhas dos pés muito grandes.

Os escorregões nos costumes masculinos também não tiveram perdão na análise de Jabor. Ele ridicularizou o costume de usar casaquinho de lã jogado nas costas (estilo tiozão), blazer com gola rolê por dentro, cuecas coloridas, sapato de franjinha e base incolor nas unhas. Tudo isso em um texto recheado de ironias e de um bom humor sarcástico, porém realmente divertido, típicos do colunista.

Confesso que ri muito, mas também fiquei encucada por alguns dias, constatando que também cometo alguns dos pecados apontados nos textos. Mas depois me dei conta de que, quando a ousadia está nos detalhes, pequenos excessos são permitidos. E, claro, tudo deve passar pelo crivo do bom senso, por uma análise de autocrítica verdadeira. Devemos analisar se a composição do visual que criamos vai se harmonizar com o ambiente em que vamos exibi-lo — o que não significa que devemos abrir mão do nosso estilo próprio em nome da moda ou do ambiente, mas dosar estilo e elegância, com comedimento.

Na verdade, todas as críticas feitas pelo colunista tinham um único pano de fundo: não devemos poluir o visual. Na prática, as informações das nossas roupas e acessórios não devem competir entre si. Por exemplo, estampas e cores muito diferentes usadas de uma só vez — flores e bolinhas, listras e assimetrias, roxo e amarelo… — podem competir e criar um visual sem harmonia.

Mas também não sejamos tão radicais. Quem resiste a uma florzinha em uma das unhas, ou a um belo bordado em um jeans? Se Mies Van der Rohe bradou ao mundo que ‘menos é mais’, podemos colocar só um pouquinho de mais nesse menos, não é?

Adriane Werner. Jornalista, especialista em Planejamento e Qualidade em Comunicação e Mestre em Administração. Ministra treinamentos em comunicação com temas ligados a Oratória, Media Training (Relacionamento com a Imprensa) e Etiqueta Corporativa.