SÓ PODE SER PUBLICADO COM ASSINATURA IGOR GIELOW SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil vai ampliar seu panteão de santos de 6 para 36, e dois dos pastores que testemunharam aparições da Virgem Maria em Fátima (Portugal) serão as mais jovens pessoas canonizadas pela Igreja Católica sem terem sido martirizadas. As decisões foram publicadas pelo Vaticano nesta quinta (20), por ordem do papa Francisco. A igreja, maior denominação cristã do mundo com 1,28 bilhão de seguidores, tem mais de 10 mil santos. Desses, apenas seis eram brasileiros.

Apenas um deles, Frei Galvão, havia de fato nascido no Brasil, enquanto os outros atuaram no país. Agora, farão companhia a eles 30 mártires, vítimas de dois massacres por intolerância religiosa durante a ocupação holandesa do Nordeste. Destes, 27 são brasileiros -um era francês, outro espanhol e um terceiro, português. Eles foram mortos nas cidades de Cunhaú e Uruaçu, respectivamente em julho e outubro de 1645. Já eram beatos, o estágio anterior à santidade, e serão elevados em 15 de outubro não por relatos de milagres específicos, mas pelo motivo de sua morte. São dois padres, Ambrósio Francisco Ferro e André do Soveral, e 28 fiéis que os acompanhavam quando tropas holandesas apoiadas por índios e comandadas por um mercenário alemão os trucidaram por celebrar missas -a Holanda era calvinista e reprimia o catolicismo.

O caso mais famoso é o de Mateus Moreira, que louvou o Santíssimo Sacramento enquanto seu coração era arrancado pelas costas na capela de Uruaçu. Além do heroísmo, a santidade em vida e milagres atribuídos são outros requisitos do Vaticano para promover uma pessoa a beato e, depois, a santo.

OS PASTORES DE FÁTIMA — O Brasil está envolvido também na canonização dos beatos portugueses Francisco Marto, 11, e sua irmã, Jacinta Marto, 10. Segundo o Vaticano, foi decisivo para a decisão um relato ainda sigiloso da cura de uma criança brasileira cujos pais rezaram para os irmãos. As aparições de Fátima, em Portugal, são um dos mais conhecidos episódios místicos da Igreja Católica. Segundo o relato dos irmãos e de sua prima Lucia dos Santos, as crianças viram a Virgem Maria no dia 13 de maio de 1917, a primeira de uma série de aparições. Os três eram pastores de ovelhas. A mãe de Jesus Cristo, conta a história, lhes fez três revelações.

Uma era uma visão do inferno associada à guerra mundial, ora em curso, e à sua continuação em 1939. A segunda, o aviso de que a “Rússia iria espalhar seus erros” pelo mundo, o que foi associado depois à vitória bolchevique na revolução daquele ano, abrindo o caminho para o regime ateu da União Soviética. Os homens deveriam converter-se a Deus e orar. Já o famoso “terceiro segredo de Fátima” permaneceu em mistério por décadas, sendo sempre contado ao novo papa no começo do pontificado. Em 2000, em meio às especulações sobre o fim dos tempos que acompanhavam a data, o Vaticano revelou que a visão dizia respeito ao atentado contra o papa João Paulo 2º em 1981, que ocorreu também em um 13 de maio. Os irmãos morreram em 1918, de gripe espanhola. Lucia virou freira e morreu aos 97 anos, em 2005. Seu processo de beatificação ainda está em curso.

Segundo o cardeal português José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação pela Causa dos Santos e que estará com Francisco na missa de canonização que ocorrerá no santuário de Fátima, crianças só viravam santas se tivessem morrido pela fé. No caso dos irmãos, a resistência em negar as aparições da Virgem, mesmo ameaçadas pelas autoridades laicas da recém-instalada República portuguesa, lhes garantiu a honra juntamente com o milagre sigiloso.