O narguilé é constituído de um frasco de vidro, uma ou mais mangueiras e um fornilho – um recipiente – coberto por uma mistura de tabaco, sabores e aromas revestidos por carvão. Por utilizar um filtro de água antes da fumaça ser aspirada pelo fumante, o narguilé é visto como menos prejudicial à saúde. No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou dados que mostram justamente o contrário. Uma sessão de uso de narguilé, que dura em média de 20 a 80 minutos, equivale à fumaça de 100 cigarros.

Assim como o cachimbo, o narguilé possui alta concentração de nicotina e CO (monóxido de carbono) – a fumaça que sai dos escapamentos dos carros -, além de mais de 40 substâncias tóxicas. “Entre os usuários, há relatos de intoxicação por monóxido de carbono, que se manifesta como dor de cabeça, tonturas, náuseas e fraqueza, seguida de desmaio”, explica Paola Mello, fonoaudióloga graduada pela Faculdade de Medicina da USP e proprietária de uma empresa de assistência domiciliar em voz, deglutição, linguagem e fala.
Além dos efeitos respiratórios, esse hábito provoca malefícios significativos à voz. Uma pesquisa realizada pelo curso de Fonoaudiologia da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) avaliou o perfil vocal dos usuários do narguilé e descreveu a qualidade da voz destes por meio de parâmetros acústicos.
Como resultado, o estudo concluiu que 8% das mulheres relataram queixas vocais e rouquidão na voz, aliado ao fato de que o tom da voz, isto é, a frequência, se mostrou abaixo do esperado. “Pode não ser sério ainda, mas é um agravamento considerável da voz”, afirmou a docente mestre e doutoranda responsável pelo estudo, Débora Godoy Galdino.
Segundo o Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica da Voz (Cefac), essas alterações vocais são mais comuns nas mulheres por conta do ciclo hormonal, que altera todo o organismo, inclusive a voz. O fumo provoca uma inflamação nas cordas vocais, uma espécie de edema ou acúmulo de muco, que engrossa a voz, efeito mais perceptível entre as mulheres.
“A voz da mulher ao longo da vida naturalmente já sofre mais alterações e isso aumenta com o uso de cachimbos, cigarros e narguilé”, completa Paola.
As regiões da boca e da garganta são as primeiras a entrarem em contato com todas as substâncias tóxicas, e por isso, o impacto na língua e na laringe, por exemplo, é maior do que em qualquer região do corpo. Além disso, o choque térmico provocado pela fumaça pode causar um ressecamento das cordas vocais e, futuramente, o desenvolvimento de células cancerígenas na região, assim como rouquidão, ardência e fadiga vocal.
As consequências do uso constante do narguilé podem produzir efeitos consideráveis. Parar de fumar já contribui para a redução do ressecamento e da produção de células cancerígenas no indivíduo. Paola explica que dependendo do tempo que o usuário fumou, a desidratação constante das cordas vocais e o uso inadequado da voz podem gerar sequelas, como o Edema de Reinke, uma laringite crônica. “Beber muita água e receber orientações personalizadas de um fonoaudiólogo se faz necessário nesses casos”, indica a especialista.


Uso pode ser proibido em Curitiba

Está em tramitação na Câmara de Curitiba projeto de lei apresentado pelo vereador Dr. Wolmir Aguiar (PSC) que proíbe o uso do narguilé em locais públicos abertos ou fechados, além da venda de cachimbos, essências e complementos para sua utilização aos menores de 18 anos (005.00142.2017). O objetivo é dar mais um passo no controle ao tabagismo, coibindo a prática do fumo do narguilé, que causa tantos males à saúde, principalmente entre os adolescentes, explicou o parlamentar, que informou que já existem mais de 300 mil consumidores do produto no Brasil.

O narguilé é um cachimbo de água, típico do Oriente Médio, no qual o tabaco é aquecido e a fumaça gerada passa por um filtro de água antes de ser aspirada pelo fumante, por meio de uma mangueira. Ele é mais prejudicial que o próprio cigarro, garante Dr. Wolmir, acrescentando que a participação em uma sessão de narguilé, que dura em média de 20 a 80 minutos, leva ao consumo equivalente de 100 cigarros. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), análises comprovam que a fumaça do narguilé contém quantidades superiores de nicotina, monóxido de carbono, metais pesados e substâncias cancerígenas do que na fumaça do cigarro.

De acordo com a proposta, os estabelecimentos que comercializam o produto deverão fixar aviso em local de fácil visualização sobre a proibição do uso em lugares públicos ou de concentração e aglomeração de pessoas, assim como sobre a proibição da venda aos menores de 18 anos. Deverão, também, solicitar o documento de identidade que comprove a maioridade do comprador. O responsável terá, ainda, que advertir os eventuais infratores sobre a proibição e sobre a obrigatoriedade de retirada do local, se necessário, mediante auxílio de força policial.

O descumprimento da lei implicará em apreensão e guarda do aparelho de narguilé pelas autoridades competentes, sendo que a devolução ficará sujeita ao pagamento integral de multa no valor de 25% do salário mínimo. Em caso de reincidência, a multa subirá para 35%. Uma eventual terceira infração resultará em multa de 50% e, por fim, multa de cinco salários mínimos e cassação de alvará de funcionamento. A Guarda Municipal também poderá ajudar na fiscalização e aplicação das sanções e o menor flagrado deverá ser encaminhado ao Conselho Tutelar. Caberá, ainda, punição por negligência aos pais ou responsáveis dos menores infratores reincidentes.