JÚLIA BARBON
SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – Culpar o PCC (Primeiro Comando da Capital) como inimigo número um virou resposta fácil para todos os problemas nacionais e regionais de segurança pública, por isso, é sempre preciso aguardar as investigações.
Essa é a avaliação de Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Leia abaixo trechos da entrevista.
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Pergunta – Faz sentido que o PCC seja o autor do assalto?
Renato Sérgio de Lima – Sim e não. Não porque há em curso hoje na América Latina, principalmente na América do Sul, uma tendência de fazer o PCC o novo inimigo regional. Isso embute uma série de interesses estratégicos de deslocar o tema do crime organizado da agenda de segurança pública para um tema da segurança nacional, e isso envolve interesses financeiros. Enfraquece as polícias e fortalece as Forças Armadas.
Culpar o PCC logo de cara porque os criminosos falavam português é uma saída que interessa a muita gente, mas não necessariamente é o que aconteceu.

– E o sim?
O sim remete ao fato de que o crime organizado no Brasil não produz principalmente cocaína, e precisa de rotas internacionais. O PCC teve na sua origem roubos a bancos, mas há muito tempo deixou de ter nisso sua principal fonte. Mas essa mistura entre grandes assaltos com o poder bélico do tráfico de drogas é recente e potencializado sim pelo PCC no Brasil.
Agora, quando você conversa com policiais que investigam no dia a dia o PCC, o assalto não chega a ser um modus operandi da facção. O PCC aluga armas para os chefes que fazem os assaltos. Depois, em geral, esse dinheiro vai ser usado para comprar um ponto de tráfico do próprio PCC ou de outra facção. Esses pontos relativizam a suspeita de que o assalto foi feito pelo PCC. Só que isso não nos exime de muita investigação.

– A ação pode ter a ver com a disputa de territórios após a morte de Jorge Rafaat [chefe do tráfico supostamente morto pelo PCC]?
Na fronteira tem essa outra questão. O Paraguai acaba sendo hoje um dos principais centros, dizem, de lavagem de dinheiro do PCC no mundo. Soa estranho o PCC fazer uma operação dessa magnitude justo ali. Acabaria chamando a atenção das autoridades do Paraguai. Eu não estou dizendo que não há chance, mas chama atenção. Por isso eu esperaria as investigações para dizer “foi obra do PCC”.

– O esforço das empresas de valores em proteger suas sedes no Brasil após uma série de ataques pode ter “empurrado” as quadrilhas para fora?
É possível pensar nisso. É um setor importante, que está cada vez se modernizando mais. Agora, a pergunta que fica é: para onde está indo tanto dinheiro? Nosso modelo de segurança não conversa com os bancos, a Receita Federal, não integra dados. Se eu estou falando de R$ 200 milhões roubados no país, esse valor deveria estar acendendo alertas e não está. Por quê?