Paris sempre chamou a atenção como uma das cidades mais bonitas, românticas e cultas do planeta. Sonho de viagem de todo turista, a Cidade Luz influenciou corações e mentes nos mais diferentes países. Com tantas qualidades, acabou sendo alvo de ações terroristas, por pura inveja e por pura incapacidade de se igualar ao brilho da capital francesa. Paris, e a França, apesar de tudo, continuam recebendo algo como oitenta milhões de visitantes ao ano e tem monumentos, como a Tour Eiffel e o Museu do Louvre, que sozinhos acolhem mais turistas do que países-continente, como o nosso.

No dia 14 de julho de 1790, no Champs de Mars, aconteceu a Fête de la Fédération, um ano depois da tomada da Bastilha, quando a Nação Francesa já se reconciliava com seu rei e rainha. O encontro celebrou a proclamação da nova constituição da França. Depois da missa solene dirigida por Talleyrand, bispo de Autun, e um discurso de La Fayette, a multidão aplaudiu a delegação americana com Thomas Paine e John Paul Jones carregando a Star Spangled Banner. Foi a primeira vez que a bandeira Star and Stripes foi apresentada fora dos Estados Unidos.


De qualquer ângulo, em qualquer estação: Paris é única

A pintura de Van Ysendyck no Museu do Castelo Versalhes comemora a proclamação no dia 25 de novembro de 1783 do Tratado de Paris e Versalhes , assinado no dia 3 de setembro, evento que aconteceu no pátio das Tuileries, perto da pirâmide de cristal do Museu do Louvre.

A festa oficial, chamada Fêtes de la Paix, aconteceu em Paris no dia 14 de dezembro, incluindo um Te Deum de agradecimento na Catedral de Notre Dame. Em todos os lugares públicos espalhados pela cidade foram armados buffets servindo vinho e comidas, enquanto orquestras animavam as danças. Durante a noite foi acesa uma gigantesca fogueira onde hoje fica a Prefeitura (Place de l’Hôtel de Ville).


Avenida Champs Elysées – a mais bonita e importante de Paris

A França era a mais antiga amiga dos Estados Unidos. A frase virou cliché, mas é um fato cuja veracidade nunca foi questionada. A França aderiu rapidamente e fez generoso suporte para a Revolução Americana, com apoio moral, homens, materiais e dinheiro. Fatores básicos para a estabelecer a independência do país americano. Rochambeau, La Fayette, Washington, Franklin são nomes que fazem parte da vida acadêmica de todo estudante norte americano.

Gerações nos dois lados do Atlântico estão ligadas às alianças Franco-Americanas nas duas guerras mundiais, na Guerra do Golfo, e nas missões estratégicas para defesa da democracia. São laços também presentes nas matérias relativas à filosofia da liberdade, da cultura, do comércio. Na guerra ou na paz.

Durante dois séculos, americanos de todas as camadas sociais, foram para a França e acabaram seduzidos pela mística dos gauleses. Inspirados pela França, principalmente por Partis, a cidade sereia entre todas as sereias. Marcas dos expatriados, refugiados e heróis ficaram na Cidade Luz. E a França participou do nascimento de um novo país, recentemente independente, na América do Norte. Quem visita Paris, encontra e descobre a essência da cumplicidade do grande evento. Uma caminhada por suas ruas é o encontro com a história, a beleza e o charme do país materno dos Estados Unidos.


Modernidade e beleza no novo museu parisiense, projetado pela Fondation Louis Vuitton

CAMINHOS DA DESCOBERTA
Foi no Hotel de Coislin que a França, primeira entre todas as nações, reconheceu a independência dos Estados Unidos em 1778. E no Hotel d’York a Inglaterra admitiu a independência de suas antigas colônias em 1783. O apoio francês é documentado: muitos aristocratas foram voluntários na guerra e serviram junto às forças americanas até antes da França oficialmente, entrar na guerra em 1778. La Fayette foi um deles. O Rei da França secretamente entregou dinheiro do Tesouro Real para a compra de armamentos e equipamentos. Dinheiro também foi coletado nas ruas de Paris para pagar o navio da frota de Grasse, Ville de Paris.

As mulheres na Corte de Versalhes angariaram dinheiro para comprar o navio de guerra de John Paul Jones. Oficiais disputaram espaço nos navios de guerra que navegaram rumo a America. O futuro Marechal Alexandre Berthier foi um deles. Os Insurgentes ficaram tão populares que até inspiraram coleções de moda. Marie-Antoinette usou o chapéu estilo John Paul Jones , as mulheres vestiam casacos à l’Insurgente e usavam vestidos chamados Lightning Conductor, honrando Franklin. Até os penteados tinham nomes como à la Boston, à la Philadelphie Um dos penteados – Insurgentes – foi popular porque ficou proibido por lei. Mas todos gostavam de chapéus, luvas, regalos para as mãos à la Benjamin Franklin.

Até o mais cínico e crítico escritor francês do século, Voltaire, escreveu para a armada de Franklin. Desta vez, com palavras amáveis e entusiasmadas aos americanos. Por outro lado, o povo americano batizou novas cidades homenageando Louis XVI – (Louisville, Kentucky); Marie Antoinette (Marietta, Georgia & Ohio); (Vergennes, Vermont) e deu o nome de Lafayette para quarenta e quatro cidades e trinta e sete counties.


O Sangri-la Hotel Paris mostra na suíte terrasse, tudo o que o turista pode encontrar na Cidade Luz

Marie Joseph Paul Roch Yves Gilbert Motier, marquês de La Fayette, ouviu primeiro falar das lutas pela independências americana quando estava em Metz como oficial da armada em 1776. Jovem e idealista, resolveu assumir a causa da liberdade. No início de 1777, assinou compromisso com Silas Deane para servir como major general na Armada Continental. Comprou um navio que nomeou La Victoire e equipou-o com seu próprio dinheiro. Só que um jovem com destaque na Corte de Versalhes, não poderia aderir à causa americana sem provocar problemas na neutralidade oficial da França. Louis XVI ordenou que fosse impedida a sua partida. Sem o apoio do rei, nem de sua família, La Fayette partiu em segredo para a America, de um pequeno porto na Espanha, em abril de 1777.

Chegou à Carolina do Norte em meados de junho e viajou 600 milhas até Philadelphia para apresentar credenciais ao Congresso Continental. Foi rejeitado na primeira vez, considerado como mais um estrangeiro esperando ganhos na armada americana. Seu entusiasmo angariou adeptos, principalmente quando se ofereceu para a tarefa, sem pedir nada em troca. Antes de completar vinte anos, o Congresso o nomeou Major General e se encontrava com o general Washington. Que se transformou no pai que o francês havia perdido em batalha.

O exército americano estava em crise: faltava comida, roupas e artefatos de guerra, para poder enfrentar as forças britânicas, visivelmente superiores, comandadas pelo general Howe. Quando Howe decidiu tomar Philadelphia, os americanos foram mais uma vez derrotados. E La Fayette foi ferido. Embora nada tivesse dado certo, o francês foi condecorado por sua bravura.


No mesmo 14 de dezembro foi realizada a cerimônia Te Deum na Catedral de Notre Dame

Os americanos venceram em Saratoga e a vitória foi suficiente para a França assinar um tratado de aliança com os Estados Unidos. Louis XVI prometeu enviar uma frota de navios e 4000 soldados comandados pela almirante d’Estaing. Em julho de 1778 La Fayette liderou duas brigadas para tentar retirar os britânicos de Newport, Rhode Island, em uma operação combinada com a frota francesa. Mas os britânicos novamente venceram a disputa, afundando vários navios.

Naquele inverno, La Fayette retornou à França, sendo recebido como herói na Corte. Conseguiu convencer Louis XVI a enviar mais 6000 soldados para ajudar aos americanos. Foram muitas as lutas e derrotas, até a vitória final em Yorktown. O herói de dois mundos voltou para a França, para assumir carreira pública, atuar na Revolução Francesa, ser exilado e preso em Olmutz pelos austríacos, solto em 1797 por causa dos protestos dos americanos. Tornou-se membro do Parlamento em 1818 e apoiou os revolucionários na troca do último rei da França, Charles X, substituído por Louis-Philippe d’Orleans. Retornou duas vezes aos Estados Unidos depois da guerra, ficando hospedado por Washington em Mount Vernon. Em 1824 o marques, então com 67 anos, visitou a nova nação pela última vez, conhecendo todos os 24 estados, e foi homenageado como cidadão honorário dos Estados Unidos.

Morreu aos 77 anos e foi sepultado ao lado de sua esposa, Adrienne de Noailles, no cemitério privativo de Picpus, junto das 1300 vítimas da guilhotina do período de 1793 e 1794. A terra da sua cova foi levada por Lafayette da America em 1824. Todos os anos, no dia 4 de julho, oficiais americanos, membros da French Cincinnati Society e French Sons of the Revolution marcam encontro no cemitério. A Star Spangled Banner está sempre içada junto ao seu túmulo. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi a única bandeira americana presente na Paris ocupada.


Luxo, requinte, bom gosto: tudo é Paris, como o museu Baccarat, junto da Place des Etats-Unis, com estátuas de Washington e La Fayette

Quem visita Paris de hoje, deve estar atento à placas nos edifícios e monumentos. Benjamim Franklin morou durante 10 anos no Hotel de Valentinois; John Adams ficou um ano no Hotel Antier; Thomas Jefferson, quatro anos na avenida des Champs Elysées, a mais importante de Paris, a mais visitada e a que foi notícia na última semana pelo assassinato de um policial, provocando a mais espetacular resposta, e tomando espaço constante no noticiário internacional.

Na rue de Richelieu, com quase um quilômetro de extensão entre o Boulevard des Italiens, a Comédie Française e a entrada do Louvre, moraram quatro presidentes norte americanos: John Adams, Thomas Jefferson, James Monroe e John Quincy Adams.

O mais antigo restaurante de Paris, o Café Procope, recebia constantemente Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, John Paul Jones e, é claro, Voltaire. Inaugurado em 1686 pelo siciliano Francesco Procopio, é ainda hoje um dos destaques turísticos da cidade.

As calçadas ao longo do Sena, no Quaid es Grands Augustins, sempre foram tomadas pelos bouquinistes, vendendo livros usados, gravuras antigas, pequenas lembranças. A atração turística várias vezes centenária, também era a preferida de Thomas Jefferson. Foi lá que sua biblioteca dobrou de volume. Foi lá que nasceu a Library of Congress, em 1800, quando o governo dos Estados Unidos fez mudança de Philadelphia para a nova capital, Washington. Só que em 1814 o exército britânico marchou sobre Washington, incendiando o Capitólio e a Casa Branca e destruindo também os 3000 livros da nova Biblioteca. Jefferson prontamente colocou à venda sua biblioteca particular, pela qual o Congresso pagou 23.950 dólares pelos 6.487 livros. Grande parte desses livros foram adquiridos em Paris, ao longo do Sena. Apesar do terrível incêndio de 1851, cerca de metade da coleção sobrevive na Library’s Jefferson Fund.

Jefferson dizia que não conseguiria viver sem livros e começou uma nova biblioteca. Quando morreu em 1826, já tinha mais de mil exemplares, que foram vendidos em leilão.

Estamos lembrando pequenos trechos da história da Europa e da América, para que sua próxima viagem a Paris – ou aos Estados Unidos – ganhe mais sabor. Basta ler as placas em residências, hotéis e monumentos, para seguir os passos de pessoas que fizeram a História e amaram a Cidade Luz, modelo no nascimento da nova nação, no outro lado do oceano.