FERNANDA EZABELLA, ENVIADA ESPECIAL VANCOUVER, CANADÁ (FOLHAPRESS) – Quando Raj Panjabi decidiu voltar para a Libéria, onde cresceu, o país se recuperava de uma guerra civil e tinha apenas 54 médicos para uma população de 4 milhões. Formado em medicina nos EUA, para onde sua família fugiu no início do conflito, ele começou a ajudar as comunidades rurais, as mais afetadas pela falta de clínicas e hospitais.

Foi com os US$ 6 mil que ganhou de presente de casamento que Panjabi montou sua primeira equipe na Libéria para treinar, equipar, empregar e administrar membros da comunidade para fornecerem serviços básicos de saúde. O resultado gerou a organização Last Mile Health há dez anos, que já serviu dezenas de milhares de pacientes e ajudou a treinar 1.300 pessoas para acabar com o ebola no país. Nesta semana, Panjabi recebeu um presente muito maior: US$ 1 milhão.

O TED Prize é um prêmio dado anualmente pela mesma organização sem fins lucrativos que faz os TED Talks, que acontecem em Vancouver até sexta-feira. A ideia é prestigiar projetos com potencial de resolver grandes problemas do mundo, envolvendo a comunidade TED, seja com tecnologia, ideias e mais financiamento. “Sempre foi verdade na história do mundo que doenças são universais, e o acesso a saúde não”, disse o médico, eleito uma das 100 pessoas mais influentes pela revista Time em 2016. “Via no dia a dia gente morrendo de coisas que não deveriam em pleno século 20. E isto acontece não só com crianças na Libéria, mas com gente em Dakota do Sul, no Alasca, no Brasil.”

Com o prêmio, Panjabi quer internacionalizar o Last Mile Health, criando a Community Health Academy (academia de saúde comunitária), uma plataforma global para treinar, apoiar e conectar “o maior exército de trabalhadores da saúde que o mundo já viu”. “A hora é agora para os avanços incríveis na revolução da educação digital colidirem com a revolução da comunidade de trabalhadores da saúde”, disse Panjabi, filho de pais indianos e médico associado na Harvard Medical School. “Queremos emponderar milhares de membros comunitários da área de saúde para servir milhões de pessoas nas comunidades mais remotas que não têm acesso, das florestas da Libéria às regiões rurais da América. Podemos salvar 30 milhões de vidas até 2030.”

Além de ferramentas de educação online, Panjabi quer usar a tecnologia de celulares para monitorar funcionários, com enfermeiras fazendo auditorias aleatórias, e também em testes baratos de diagnósticos, como um de apenas US$1 para detectar malária. “Hoje, com tanta gente com medo de perder o emprego por causa da tecnologia, estamos criando empregos com o uso de tecnologia”, disse.