SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A candidata da direita nacionalista à Presidência da França Marine Le Pen disse nesta sexta-feira (28) que abomina os negacionistas do Holocausto, em uma tentativa de melhorar a imagem de seu partido. A declaração foi feita horas após o afastamento de Jean-François Jalkh, que ocupava a liderança da Frente Nacional no lugar de Le Pen. Ele deixou o cargo depois do retorno de uma polêmica sobre o genocídio nazista.

Os rivais da sigla republicaram uma entrevista de 2005 em que Jalkh elogia “a seriedade e o rigor” dos argumentos do trabalho de Robert Faurisson, negacionista que foi condenado diversas vezes pela Justiça francesa. No lugar de Jalkh assumiu o deputado europeu Steeve Briois. Horas depois, Le Pen disse que não há negacionistas na direção do partido. “Não há ninguém que defenda isso”, afirmou, em entrevista ao canal BFM-TV.

Antes da aparição na TV, ela fez um vídeo destinado aos eleitores do líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon, quarto colocado no primeiro turno, pedindo seu apoio para impedir a chegada de Emmanuel Macron à Presidência. Dentre os argumentos para conseguir os votos de eleitores do outro lado do espectro político, cita que o centrista, ex-banqueiro e apoiado pelo mercado financeiro, é o candidato da oligarquia e da elite.

Também comparou sua situação eleitoral com a briga entre Davi e Golias. “O amor que nós temos por este país é a pedra que Davi usou para matar Golias”, disse, em entrevista a canais regionais. Mélenchon, porém, descartou qualquer possibilidade de votar em Le Pen. “Todo mundo sabe que eu não votarei na Frente Nacional”, disse o esquerdista em vídeo, sem declarar apoio a Emmanuel Macron.

EXPURGO

Desde a eleição para o Parlamento Europeu, em 2015, Marine Le Pen tenta retirar a associação da Frente Nacional ao neonazismo. Para isso, expulsou velhas lideranças e moderou o discurso dos dirigentes. Um dos primeiros alvos do expurgo foi o pai dela, Jean-Marie Le Pen, que foi condenado no ano passado a pagar uma multa de 30 mil euros por ter dito que as câmaras de gás usadas no Holocausto foram “um detalhe”.

Ele, que perdeu o segundo turno presidencial de 2002 para Jacques Chirac, já havia sido condenado outras duas vezes por defender a desigualdade de raças e dizer que a ocupação nazista na França “não foi desumana”. Apesar dos esforços, Marine também fez declarações polêmicas sobre o nazismo na campanha. No início de abril disse que a França “não era responsável” pelo chamado Ataque ao Velódromo de Inverno, em 1942. A ação nazista levou à deportação de judeus para campos de concentração sob ordem do governo francês.

Nesta sexta, a Associação dos Judeus Deportados da França publicou um anúncio pedindo voto para Macron. O centrista também se aproveitou da polêmica ao visitar na tarde de sexta Oradour-sur-Glane, onde 642 pessoas foram mortas em um massacre do braço armado da SS (a polícia política nazista) em 1944. “Vi um trecho das páginas mais obscuras da história da França, mas também o renascimento da França”, afirmou, e logo depois lançou uma indireta à rival. “Decidir não se lembrar é correr o risco de repetir a história.”