Num momento em que inovação, criatividade, sustentabilidade, empreendedorismo, tem feito diferença nos processos educativos, em que escolas colocam nos currículos disciplinas relacionadas a esses temas, a discussão sobre a visão comunitária acerca das pessoas que parecem possuir estas características de forma natural é indispensável.

Fora raras exceções, o sistema educacional é desenvolvido mais para homogeneizar que para destacar um ou outro estudante, o que é até certo ponto adequado, pois uma sociedade composta inteiramente por pessoas eficientemente letradas, razoavelmente preparadas para a vida profissional em suas várias modalidades, educadas para os inter-relacionamentos de forma equilibrada, certamente é mais desejável que uma comunidade de ignorantes capitaneados por umas poucas pessoas que detêm todo o saber.

No entanto, é também verdadeiro que estes grupos de iguais, com formação de mediana para boa, precisarão contar com alguns que se sobressaiam, que inovem, deem o salto de qualidade, sob pena de estagnação e eventual retrocesso. Todos os grandes avanços e descobertas na história humana foram efetivados por aqueles dotados de engenhosidade e visão acima do senso comum.

Roma e Grécia antiga já se preocupavam com o assunto, pelo menos em relação a produtos produzidos por artesãos, procurando diferenciá-los por símbolos, letras ou mesmo desenhos, que mesmo não tendo a atribuição de valor patrimonial como hoje entendemos, procurava diferenciar um criador de outro exatamente por entender que as qualidades — e portanto preços — não seriam os mesmos. Saber quem produzia as melhores peças, dar-lhes o aval de produto superior era, portanto, estímulo à inventividade, além garantia de melhor renda.

No entanto, esta proteção era apenas em relação ao produto acabado, o esforço inventivo não sendo sequer cogitado. Foi em Veneza a partir do século XI que a inventividade começou a ser valorizada no processo da fabricação do vidro, um incipiente direito sobre o design, que hoje é extremamente importante nas indústrias e comércio de forma geral. Entretanto, pesquisadores divergem muito quanto ao início daquilo que denominamos hoje propriedade intelectual, havendo relatos até de casos ocorridos de disputas pouco depois do ano mil, e no Brasil é com a Constituição de 1824 que o assunto veio oficialmente à baila.

A disseminação do processo informacional, o acesso quase irrestrito às mídias sociais e o acelerado crescimento da economia industrial, com a reprodução em série de produtos, fortaleceu a ideia da propriedade intelectual, ou seja, os direitos sobre a exclusividade da reprodução ou utilização de uma criação artística, literária, científica, de artigos tangíveis ou não; reconhecimento que incentiva mais inovações. Segundo pesquisadores, isso possibilita transformar o conhecimento, em princípio um bem quase público, em bem privado e é o elo de ligação entre o conhecimento e o mercado; e se caracteriza pela propriedade industrial, pelo direito autoral – desde palestras, desenhos, músicas, pinturas, fotografias, esculturas, livros, conferências; e por uma denominada proteção sui generis, que compreende hoje toda a manipulação genética, exigindo cuidados especiais pela possibilidade do ressurgimento de uma nova modalidade de eugenia.

Criatividade, assim, pode percorrer caminhos inusitados, pode significar perigos e erros — muitos erros — pois o percurso usual, que é seguro e garantido, implica em mais do mesmo. Sem ela, todo avanço tecnológico e científico inexistiria, e grandes obras literárias também.

Por isso, embora muitos afirmem que criatividade é impossível de ser ensinada, bons professores sempre tentarão desafiar o senso comum, pensar o novo, o fora dos padrões, a perder o medo de errar, já que a evolução raramente caminha em linha reta.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.