BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O diretor da JBS Ricardo Saud disse, na sua delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF), ter viabilizado pagamentos num total de R$ 15 milhões a pedido do presidente Michel Temer em 2014, quando ele ainda ocupava o cargo de vice-presidente.

O valor era proveniente de um “saldo” de negócios do grupo de Joesley Batista junto ao BNDES e era usado para financiar campanhas do PT. Porém, após acerto com o então ministro da Fazenda Guido Mantega, que controlava o uso desses recursos, ficou acertado que R$ 15 milhões seriam repassados a destinatários indicados por Temer. O PMDB era coligado ao PT em 2014, na chapa que concorria ao Palácio do Planalto e se saiu vencedora, elegendo Dilma Rousseff e Temer.

De acordo com Saud, delator da Lava Jato, ele foi a Brasília em 18 de agosto para avisar Temer que o montante seria liberado após acerto com Mantega. No encontro ficaram acertaram os destinatários: R$ 1 milhão seria entregue em dinheiro no endereço da empresa Argeplan Arquitetura e Engenharia, em São Paulo. A Argeplan foi alvo de mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira (18) durante a Operação Patmos.

Um dos sócios da empresa é o coronel aposentado João Baptista Lima Filho, amigo pessoal de Temer. A maior parte do dinheiro, R$ 9 milhões, seria paga de forma “dissimulada” como doações oficiais ao Diretório Nacional do PMDB por meio de cinco depósitos. Saud conta ainda que o grupou repassou, via caixa 2, R$ 2 milhões à campanha de Paulo Skaf, presidente da Fiesp, ao governo de São Paulo pelo PMDB. De acordo com o delator, o valor foi pago à JEMC consultoria, ligada ao publicitário Duda Mendonça. Os R$ 3 milhões restantes teriam sido enviados em dinheiro ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por meio do emissário Altair Alves Pinto.

AUTORIZAÇÃO

Inicialmente, Batista tinha acertado com Mantega o repasse de R$ 35 milhões a seis senadores do PMDB. Seriam R$ 8 milhões a Renan Calheiros (AL), R$ 2 milhões a Valdir Raupp (RO), R$ 8 milhões a Jader Barbalho (PA), R$ 8 milhões a Eduardo Braga (AM), R$ 8 milhões a Vital do Rêgo (Hoje ministro do TCU) e R$ 1 milhão ao PMDB do Tocantins. Joesley pediu então que Saud procurasse Temer para falar sobre o acerto de recursos que seriam repassados do “saldo BNDES/Fundos” ao PMDB. Ao procurar o então vice-presidente, Saud ouviu que era preciso cancelar a operação e aguardar que o peemedebista reassumisse o comando do partido, o que aconteceria “em breve”. O dinheiro foi liberado pouco mais de um mês depois, com Temer já na presidência do PMDB. O repasse foi feito com a autorização de Mantega e era referente ao “saldo BNDES/Fundos”.