CAMILA MATTOSO BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Uma semana após as delações da Odebrecht, José Serra (PSDB-SP) se dizia “preocupado” com as consequências das dezenas de depoimentos de ex-executivos. Por volta das 17h do dia 20 de abril, uma quarta-feira, o senador ligou para seu colega de partido Aécio Neves (PSDB-MG), para desabafar e tentar buscar soluções.

Ele queria derrubar o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, para colocar outro, mais “forte”, em seu lugar. Aécio concordou. Sugeriu, porém, que a conversa fosse feita pessoalmente. Àquela altura, Serraglio estava no cargo há pouco mais de um mês -já sofria críticas por ser pouco atuante. Serra insistiu no assunto e pediu ao colega para convencer o presidente Michel Temer a fazer a mudança.

A conversa, que teve 3 minutos e 22 segundos, foi interceptada pela Polícia Federal, como parte das investigações que deram origem à Operação Patmos -deflagrada na última quinta (18). Para o Ministério Público, Aécio Neves atuou com outros políticos, inclusive ao lado de Temer, para frear o avanço da Lava Jato. O tucano teve o mandato suspenso por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele não pode deixar o país, nem conversar com outros investigados e réus.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) chegou a pedir sua prisão, mas a solicitação foi negada pelo ministro Edson Fachin. De acordo com a delação da JBS, o mineiro recebeu cerca de R$ 60 milhões em propina. Até uma conta de e-mail do senador teve o sigilo quebrado por ordem da Justiça. Aécio Neves pediu licença da presidência do PSDB para “provar sua inocência”.

 

Confira o diálogo completo:

 

José Serra – Deixa eu te falar uma coisa, cara. Eu tô preocupado… olhando do ponto de vista macro, né… da política, eu acho que precisa ter um ministro da Justiça forte, viu Aécio.

 

Aécio Neves – Eu também acho, sempre achei.

 

 

José Serra – E… realmente forte. Não precisa ser da área, porque vai ficar da área… vai ficar aquele problema todo. Alguém como o Jungmann daria, entende? Bem assessorado, tal. O fato é que tem que por alguém com força. Não para fazer nada arbitrário, mas para que as coisas tenham um caminho, né? De desenvolvimento, tudo.

 

Aécio Neves – Vamos falar pessoalmente, tá bom.

 

José Serra – É. Mas se você tiver oportunidade, sem mencionar que eu te falei, porque eu tinha ficado de falar com ele. Podia mencionar isso para o presidente.

 

Aécio Neves – Tudo bem, mas não sei se consigo.

 

José Serra – Inclusive quem etc. Mas o fato é o seguinte, precisa ter ministro forte.

 

Aécio Neves – Concordo com você.

 

 

José Serra – O rapaz é um… o Osmar Serraglio foi um bom deputado, acho mesmo… pode ir para outro ministério, tal, mas as condições iniciais ele não teve

 

Aécio Neves – Falamos pessoalmente, mas concordo. Falamos pessoalmente, tá bom? Mas tá entendido.

 

José Serra – Você concorda com a ideia, né?

 

Aécio Neves – Concordo há muito tempo já.

 

José Serra – Tá bom.

 

Aécio Neves – Abração.

 

José Serra – Ok.

 

Aécio Neves – Melhoras aí.