SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em depoimento que faz parte do acordo de delação da JBS, Wesley Batista afirma que pagou quase R$ 30 milhões em propina ao ministro Gilberto Kassab (PSD) no curso dos últimos sete anos. O valor foi pago do início de 2010 ao final de 2016, por meio de um contrato de consultoria com uma empresa de Kassab, a Yape, no valor de R$ 350 mil por mês —totalizando, portanto, R$ 29,4 milhões. A propina não tinha objetivo específico, mas possíveis benefícios que o político pudesse oferecer no futuro. “Quando a JBS comprou o Bertin [a JBS comprou a parte de frigoríficos do conglomerado, que atua também em áreas como infraestrutura e energia, no final de 2009], nós herdamos um relacionamento que o Bertin tinha com o Kassab”, diz Wesley, em depoimento do último dia 4 na sede da Procuradoria-Geral da República. Segundo Wesley, o Bertin tinha dois contratos com empresas de Kassab. Um, pelo aluguel de caminhões que faziam o transporte de contêineres, no valor de R$ 300 mil inicialmente, e que depois foi para R$ 400 mil. Esse contrato era legítimo, conforme o depoimento. “Transportava mesmo, e era preço de mercado”, diz. O segundo contrato era pelos serviços de consultoria da assessoria Yape, que eram os R$ 350 mil de propina a Kassab. O empresário diz que manteve os contratos herdados da compra esperando vantagens. “Por que que pagávamos? Porque o Kassab foi ministro por algumas vezes, era uma pessoa que nós considerávamos de alguma influência, tinha sido prefeito, em algum momento poderia ser governador, vice-governador, ou ministro de novo, como é hoje”, afirma Wesley. À época da compra, Wesley disse que foi avisado por Natalino Bertin, dono do Bertin, de que havia esses contratos, e que foi procurado pelo próprio Kassab, à época, prefeito de São Paulo. Segundo Wesley, Kassab teria dito “Olha, tenho um contrato com o Bertin, desses caminhões, tem o outro dessa assessoria que é um ‘overprice’ [sobrepreço] desses caminhões e gostaria que vocês mantivessem, continuassem. Eu conto com isso aí”. Apesar de ter uma relação boa com o ministro, Wesley disse que rompeu o contrato em janeiro deste ano. “Três meses, quatro meses atrás, eu parei. Falei ‘não dá mais’. (…) Rescindimos, abrimos mão de alugar os caminhões dele.” CAIXA DOIS Também em depoimento, o ex-diretor da JBS Ricardo Saud afirmou que Kassab desviou R$ 7 milhões de recursos de caixa 2 de campanha eleitoral para uso próprio. Saud diz que o PT “comprou o apoio do PSD”, em referência à eleição de 2014, quando apoiou a reeleição da presidente Dilma Rousseff. “Uma parte do dinheiro ele colocou na campanha do Senado, outra ele ajudou alguns candidatos a deputado, outra parte investiu no [governador do RN] Robson Faria e no [deputado] Fábio Faria, e outra parte ele tirou para ele, pessoa física”, disse Saud. “Só convivi com isso duas vezes. O cara roubar dele mesmo. Nunca tinha visto isso numa eleição”, afirmou Saud. De acordo com o ex-diretor, Kassab reservou para uso pessoal R$ 7 milhões que seriam pagos através de um contrato fictício firmado entre a JBS e a Yape Consultoria e Debate. A empresa é de Renato Kassab, irmão do ministro. O repasse ocorreu com 22 parcelas de R$ 250 mil, totalizando R$ 5,5 milhões –o restante foi usado para pagar impostos. “Nota fria, gelada mesmo”, afirmou ele, em referência aos recibos emitidos. Prefeito de São Paulo (2006 a 2012) e ministro das Cidades no segundo governo Dilma (2015 a 2016), Kassab é hoje ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do governo Michel Temer (PMDB).